RELATÓRIO – VISITA DA DELEGAÇÃO JOVEM DO DEMOCRATAS A BERLIM E DRESDEN (ALEMANHA) EM PARCERIA COM FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, CDU E JUVENTUDE DA CDU (10 A 14 DE DEZEMBRO DE 2018)! PARTE 1!
Bruno Kazuhiro, presidente da J-DEM do Brasil e membro da executiva da Young-IDU
1. Abertura com Sr. Peter Fischer Bollin (Chefe de Cooperação Internacional da KAS) e Karsten Grabow (Analista Sênior de Sistemas Partidários da KAS)
Peter Fisher Bollin – Pela primeira vez na história da CDU o partido teve congresso com 3 nomes viáveis para vencer e presidir o partido. Essa situação negou a crítica de que a CDU não preparou líderes pós-Merkel. A disputa se centrou entre defensores de Merkel e aqueles mais conservadores que a criticam por ter se movido muito à esquerda. – Merz era mais liberal. Spahn era mais conservador. Venceu Annegret Kramp-Karrenbauer, conhecida como AKK, que é mais centrista e tinha apoio de Merkel.- Por outro lado, AKK teve que mostrar que não era apenas uma cópia de Merkel, pois do contrário perderia.- Ocorreram debates entre os 3 em 8 cidades alemãs que são pólos regionais.- Agora AKK tem que unir o partido.- Novo Secretário-Geral do partido, antiga função de AKK, será o presidente nacional da Juventude CDU. Uma vitória dos jovens.
Karsten Grabow:- Eleições 2017 fragmentaram ainda mais o parlamento alemão, que agora conta com 6 partidos (7, caso se conte CDU e CSU como partidos distintos, lembrando que a CSU representa a aliança na Baviera e a CDU atua no resto do país). CDU/CSU caiu 8,6%. SPD caiu 5,2%. AFD subiu 7,9% e entrou no parlamento. FDP subiu 6% e retornou ao parlamento. LINKE subiu 0,6%. Verdes subiram 0,5%. – Pesquisas atuais mostram crescimento dos Verdes e da AFD se o novo pleito fosse hoje. O tema principal nesse momento é a imigração. Verdes são a favor e AFD contra. Atualmente CDU e SPD perdem apoio.- A queda de apoio da CDU, embora ainda o partido mais forte, explicam em parte a saída de Merkel. Da mesma forma sairá em breve o presidente da CSU, Seehofer.- Curiosamente, hoje Merkel é mais popular entre os eleitores dos Verdes do que os da CDU. Demonstra os problemas internos do partido.- Na Holanda a centro-direita se uniu à direita mais radical e depois desapareceu. Os eleitores igualam e passam a preferir o original. CDU tem receio, por esse motivo, de coalizões locais com AFD. – É importante sempre citar que os que são contra tudo e nunca governaram sempre poderão dizer coisas que quem já governou não diz.- É importante, por outro lado, sair na frente nas pautas, tomando o controle da agenda que seria do outro partido.
– Eleitores alemães não são mais leais a um partido por toda a vida como algumas décadas atrás.- AFD tentará ampliar suas pautas e se estabelecer como força de direita no país.
2. Visita ao PopUp Lab da Fundação Konrad Adenauer, coordenado por Eva Majewski
Eva Majewski:
– PopUp Lab é o nome de um local que fica em bairro residencial, que permita atrair o interesse dos cidadãos, principalmente jovens, para a Fundação. Bem informal, com livros, decoração estilizada, bebidas grátis, palestras, eventos, discussões, etc. Uma espécie de comitê moderno e informal.- Só dá certo quando é de fácil acesso, com metrô, trens, ônibus próximos e dentro de área com circulação de pedestres, mas onde as pessoas também vivam. Ideal uma loja de rua com vitrine chamativa que dê visibilidade. Localização é fundamental.- A Juventude CDU tem um representante entre os que trabalham na Liderança da CDU no parlamento para cuidar de temas relacionados à juventude que possam estar na pauta. Atuei nessa função e agora estou coordenando o PopUp Lab.- Esse ano o nosso pólo tratou dos seguintes temas: Futuro da democracia. Estado de Direito. Educação. Inovação. Coesão Social. As reuniões tinham palestrantes que introduziam o tema e sentavam no meio de um círculo, com participantes em volta. Os eventos tinham pizza e ambiente informal. O público-alvo são universitários e ensino médio e filiados ao partido de todas as idades.- Diversos eventos em um mesmo dia. Para isso o pólo conta com 4 funcionários e alguns voluntários.
– Convites para os debates são distribuídos impressos nas caixas de correio da vizinhança. Contato mais direto. Mas também divulgação nas redes sociais.- Não usamos o pólo para fazer campanha eleitoral. São coisas distintas. A Adenauer tem status de utilidade pública justamente por essa separação.- Usamos o espaço também para incentivar o voto, já que é facultativo. Um exemplo: nas eleições para o parlamento europeu apenas 45% da população vota. Mas entre os jovens apenas 30%.- É importante debater um marketing próprio para jovens. Eles reclamam mas não participam o quanto poderiam. Temos que estimular a participação. Panfletar nas portas de faculdade, não só virtualmente.- Para estimular a participação é preciso separar os participantes em grupos, incentivar dinâmica, sugerir que os grupos tenham relatores que apresentem soluções encontradas.
3 . Conversa com Deputado Federal jovem, Philipp Amthor, no edifício anexo ao parlamento alemão
Philipp Amthor:
– Comecei na JU com 16 anos. Depois fui presidente na minha região. Apoiado por deputados anteriores, consegui vencer a eleição direta distrital em minha região. – O primeiro desafio é ser o candidato do partido. Depois é que se enfrenta a disputa no distrito.
– O trabalho de base foi fundamental para a vitória. Ir de porta em porta. Conversar. Fazíamos uma proposta: Faça um café na sua casa que levaremos o bolo.- Tivemos muitos jovens voluntários.- Campanha eleitoral durou 9 meses. Mas os cartazes e televisão são permitidos nos últimos 2 meses. – As sessões plenárias são 2 semanas por mês, de segunda a sexta. Sempre com muitas reuniões partidárias sobre os projetos. Nas outras semanas são reuniões das comissões ou visitas às bases eleitorais.- Temos uma soma global de gastos do gabinete e dividimos como achamos melhor para contratar assessores. São 200 mil euros anuais.- Ter trabalho de base, formação de jovens, desenvolver os valores do partido, participar de movimentos, ter contato com lideranças do partido, seriam meus conselhos para os jovens candidatos.- CDU apóia as candidaturas de suas lideranças jovens. Incentiva que sejam candidatos. Mas há desafios também como entrar em boa posição na lista de candidatos ou ser o candidato em um certo distrito.- Nosso sistema eleitoral ajuda a renovação caso os partidos queiram ajudar.
4- Dresden, capital da Saxônia, estado ao sul de Berlim e Brandemburgo
Almoço com diretor da Fundação Konrad Adenauer na Saxônia, Joachim Klose, mestre em filosofia em Harvard
Joachim Klose:
– Saxônia sofreu muito com o comunismo. Área mais rica da Alemanha antes da guerra perdeu seu status e seu desenvolvimento. Rússia levou fábricas inteiras para seu território. Até mesmo equipamentos de transporte. O centro histórico passou a ter pastos e plantações. Só foi recuperado após a queda do muro de Berlim e a reunificação das Alemanhas.- A Alemanha Oriental era uma prisão, afinal, só saía quem era autorizado.- A população da Saxônia reduziu em 1/5 após a reunificação. Migraram ao Oeste para buscar vida melhor. Grande migração foi das áreas rurais. Hoje Leipzig e Dresden crescem, mas as áreas rurais se esvaziam.- A migração é maior entre as mulheres. As áreas passam a ter 30% a mais de homens. E os imigrantes árabes que chegam também são majoritariamente homens.- Alemanha Oriental recebia também imigração, mas de países comunistas como Angola, Cuba e Vietnã, além do Leste Europeu. – Após reunificação, os exércitos da duas Alemanhas se fusionaram sem qualquer preparação. Apenas 2 semanas antes havia ocorrido conflito entre um soldado de cada lado. Até hoje há problemas. – Os atuais estados alemães que antes eram da Alemanha Oriental são mais estratificados e é mais difícil ascensão social. Maior desigualdade.- Existia na Alemanha Oriental a criação de narrativas a favor da promiscuidade sexual, do adultério, etc. Havia uma tentativa de enfraquecer a família tradicional. O governo, por exemplo, subordinou as igrejas ao estado e destruiu mais de 60 templos.- Os atuais habitantes da área que foi Alemanha Oriental são mais conservadores que os dos outros estados. Parece contraditório. Mas ocorre que essas pessoas já viveram o “modernismo” em algumas pautas. Talvez seja um dos fatores de votação da AFD. – Os habitantes da Saxônia se sentem injustiçados ao serem chamados de xenófobos. Eles aceitam imigração, apenas querem controles.- A fratura que ainda existe entre Europa Ocidental e Oriental se coloca de forma clara na Alemanha.- KAS na Saxônia realiza em torno de 120 eventos por ano. Debates, palestras e seminários divulgando a perspectiva da CDU. Trabalhamos também com bolsas de estudo, educação e cooperação internacional.- Nos modernizamos com atividades mais interativas como concurso de fotos, humor, cinema, sempre gratuitos. – O público é cada vez mais idoso. Precisamos nos mexer para atrair os jovens. Não faremos eventos sobre coisas que se pode aprender na internet. Jovens querem novidade.- Eleições locais da Saxônia ocorrem em 2019. AFD pode vencer. Temos que trabalhar para a CDU não permitir.- Uma organização jovem deve poder receber doações. Se a JDEM legalmente não pode no Brasil, deveria constituir uma associação civil que possa. Aqui o partido, a juventude e a fundação recebem, separadamente.- Redes sociais são muito importantes mas são superficiais. Não aprofundam. Mas só a elite intelectual quer aprofundar. É um dilema. Como comunicar com os demais de forma embasada?- Política não se faz só com mandato. Se faz no debate público.- O populismo quer dar respostas fáceis para problemas complexos. Temos que questionar essa superficialidade, mas não será possível sem confiança. Precisamos renovar para ter capacidade de retomar a confiança nos políticos. – A Saxônia teve governo nazista entre 1933 e 1945. Depois comunista entre 1945 e 1989. A CDU governa desde 1990. A crítica pela esquerda à CDU na Saxônia não funciona pelo passado comunista. Então ela vem pela direita com AFD. – É natural que a população sempre pense que a política tradicional não traz mudanças. A população quer protagonismo. CDU está buscando ir aos bairros e gerar proximidade.
5- Reunião com Gerente da CDU na Saxônia e ex-gerente da JU nacional, Conrad Clemens
Conrad Clemens:
– Juventude CDU tem níveis municipal, estadual e federal e trabalha muito nos bairros continuamente e nas campanhas eleitorais.
– Cargos de diretoria são políticos, não há pagamento, são voluntários. Os funcionários que se dedicam exclusivamente são pagos, como o gerente.- Facebook envelheceu, estamos focando no Instagram.- Importante debater os temas das cidades com os núcleos jovens, não apenas os grandes temas. São mais próximos a eles.- Cargos da diretoria da JU são: Políticos – Presidente, Vices, Secretário, Tesoureiro, Auditor Financeiro e Secretário Internacional. Profissionais – Gerente, Chefe de Comunicação, Chefe de Eventos, Coordenador de Cursos de Formação, Coordenador de Atendimento aos Membros e Coordenador de Recepção aos Novos Membros. Gerente cobra os demais.- A diretoria tem muitos cargos mas a relação entre as pessoas precisa ser a mais horizontal possível. – JU tem orçamento de 1,3 milhão de euros anual. 700 mil vêm do dinheiro público pela lei de incentivo à formação política, 500 mil da CDU e 100 mil de doações. Prestação de contas rígida.- Redes Sociais da CDU são coordenadas por profissionais junto com membros da JU.- Membros da JU pagam 1 euro por ano para participar. 0,50 fica para nacional e 0,50 para o estado. Simbólico, mas gera arrecadação.- Empresas patrocinam eventos da JU e em troca colocam estandes onde apresentam seus produtos.- Para arregimentar novos membros é preciso que, virtualmente, seja um clique só, sem formulários, sem demora. A nível presencial, reuniões semanais sempre no mesmo lugar e mesmo horário, criar rotina. Incentivo para novos jovens como música, bebidas, decoração jovem, futebol, etc.- JU começa com 14 anos. Também há problemas de conscientização política e falta de conhecimento em nossa sociedade. Buscamos informar.- Jovens normalmente asseguram posições intermediárias nas listas eleitorais da CDU.