06 de dezembro de 2018

“PROTESTOS NA FRANÇA SINALIZAM CRISE MAIS AMPLA DA DEMOCRACIA OCIDENTAL”!

(Ishaan Tharoor – Estado de S.Paulo, 05) 1. O presidente da França, Emmanuel Macron, gosta de se apresentar como um político moderado que consegue se manter firme diante da pressão popular. No entanto, agora ele corre o risco de ser arrebatado por uma rebelião. Pela terceira semana seguida, protestos tomaram conta do país.

2. Os distúrbios estão ligados ao movimento dos coletes amarelos. A irritação é com o aumento dos preços dos combustíveis, determinado por Macron como parte dos compromissos com o acordo sobre o clima. Mas os protestos também têm a ver com frustrações mais profundas de um segmento da sociedade francesa, que deseja uma rede de proteção social mais ampla no momento em que o país ainda registra um crescimento moroso e um alto índice de desemprego.

3. As raízes dos protestos também estão fora dos abastados centros urbanos, pequenas cidades e povoados dominados pela estagnação e pelo desespero pós-industrial que vem engolindo a classe média. Essas fissuras são familiares a britânicos, americanos e outras democracias ocidentais – assim como a incapacidade dos políticos de sanar as desigualdades.

4. Além do imposto sobre a gasolina, Macron quis impor um ambicioso programa de reformas. No entanto, há um ressentimento generalizado com seu estilo arrogante de administrar e má impressão de que ele governa para uma elite metropolitana.

5. Os inimigos de Macron têm se aproveitado dos distúrbios. Jean-Luc Mélenchon, líder da extrema esquerda, comparou o clima na França ao auge dos protestos da esquerda em 1968. A líder da extrema direita, Marine Le Pen, pediu a dissolução da Assembleia Nacional e novas eleições. Outro radical de direita ligado ao movimento de protesto, a título de provocação, exigiu que Macron renuncie em favor de um governo provisório liderado por um ex-general.

6. A república não está prestes a cair, mas os protestos mostram como Macron vem sendo tragado pelas mesmas frustrações contra o establishment que o levaram à presidência como um outsider da política. Para os seus defensores, o momento é preocupante. Muitos esperavam que sua vitória, no ano passado, fosse uma resposta aos populistas dos dois lados do Atlântico. Só que ele não conseguiu desbancar a direita radical nem convencer a esquerda, que o considera um agente dos ricos.