13 de novembro de 2018

LATINOBARÔMETRO INDICA 2018 COMO UM PÉSSIMO ANO PARA A DEMOCRACIA NA AMÉRICA LATINA!

(JANAÍNA FIGUEIREDO – Buenos Aires – Globo, 10) 1. A pesquisa anual do Latinobarômetro, feita em 18 países da América Latina, mostrou que 2018 foi o pior ano para a democracia na região desde o início da medição, em 1995. Dois países do continente deixaram de ser democráticos (Venezuela e Nicarágua), e todos os indicadores de confiança na democracia regrediram. Desde que a Latinobarômetro começou a realizar pesquisas em todos os países do continente, há 23 anos, o respaldo à democracia teve momentos de auge, como em 1997, quando chegou a 63%. Hoje, o percentual caiu para 48%, o ponto mais baixo desde 20

2. No Brasil, a satisfação com a democracia é a menor na região,9%, e o percentual de brasileiros que a poiam o regime democrático também encontras e entre os menores—apenas 34% dizem apoiara democracia, e o país só fica à frente dos centro-americanos Honduras, Guatemala e El Salvador. Quando a pergunta feita foi se o país em que vive o cidadão está progredindo ou regredindo, outra vez os brasileiros mostraram-se desapontados, e o Brasil figurou no final do ranking, empatado em último lugar coma Venezuela. Só 6% dos brasileiros acreditam que o país está progredindo. A má percepção da economia afeta a avaliação do sistema político, registra o relatório.

3. O levantamento também perguntou se as pessoas acreditam que vivem em países democráticos. Neste tópico, 17% dos brasileiros responderam que o Brasil não é uma democracia, contra 37% na Venezuela e 35% na Nicarágua. A maioria dos brasileiros (52%) acredita que o país é uma democracia com “grandes problemas”, enquanto em Chile, Costa Rica e Uruguai mais de 40% veem uma democracia com “pequenos problemas”.

4. Para a pesquisa deste ano, a entidade entrevistou 20.204 pessoas entre 15 de junho e 2 de agosto, o que considera “uma amostra representativa da população total dos 18 países, que chega a 650 milhões de habitantes”. Ante os números, a diretora do Latinobarômetro, Marta Lagos, definiu 2018 como um “annus horribilis” para a região. Poucas vezes, segundo ela, o continente viveu um período tão convulsionado em sua História desde o início da transição para a democracia, nos anos 1980.

5. Em entrevista ao GLOBO, Lagos fez um alerta para a falta de consciência sobre o que chamou de “diabetes democrática” que se espalha pelo continente, e afirmou que é necessário “saber declarar e entender onde estamos posicionados”: — No caso do Brasil, por exemplo, a eleição de Jair Bolsonaro é consequência e não causa de uma situação. Mas o Brasil não está sozinho, a confiança e a credibilidade da democracia estão sendo questionadas em todos os países da região.

6. Para ela, “a eleição de Bolsonaro explica-se pelo desejo dos brasileiros de elegerem alguém que tire o país do buraco e alguém que é visto como alheio ao sistema político tradicional e suas mazelas”. — No Brasil, a confiança interpessoal é de 4%. Isso significa que os brasileiros praticamente não confiam em ninguém, muitos menos nas instituições e partidos políticos. A crise da democracia é consequência disso —frisou. Somente em nove países, de acordo com o levantamento deste ano, o apoio ao sistema democrático supera 50%, e o percentual mais elevado foi registrado na Venezuela (75%), onde se impôs, nas palavras de Marta, “um autoritarismo eleitoral”, mesmo caso da Nicarágua. Na Argentina, o apoio à democracia alcança 59%; no Uruguai, 61%; e no Brasil, apenas 34%.

7. No outro extremo, o autoritarismo é visto como um modelo positivo por 27% dos paraguaios, 23% dos chilenos e 20% dos guatemaltecos. “Os povos da América Latina querem prosperidade e desenvolvimento, não há evidências de uma demanda por autoritarismo, mas por ordem e ausência de violência”, diz Lagos em texto que acompanha o relatório.

8. Na visão da professora Maria Regina Soares de Lima, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj e coordenadora do Observatório Político Sulamericano (Opsa), nos casos de países como Venezuela e Nicarágua o grande problema atualmente é “que não existem governos dispostos a negociar”. —São democracias que estão por um fio, mas elas não podem ser excluídas nem ignoradas.

9. Tampouco pode-se pensar numa intervenção — enfatizou a professora. No caso do Brasil, sustentou Maria Regina, “a eleição de Bolsonaro explica-se pela demanda de liberalismo econômico e segurança e, ao mesmo tempo, rejeição à corrupção”. —O presidente eleito foi visto como uma novidade, mas rapidamente ficará claro que não é —disse a professora. A Latinobarômetro analisa a eleição brasileira e afirma não entender a surpresa do mundo com a vitória de Bolsonaro. “Essa surpresa não deveria ser tal se levarmos em consideração que 65% dos brasileiros dizem que a democracia tem problemas (grandes e pequenos) e 17% asseguram que não existe democracia no país. O Brasil é simplesmente um país onde a crítica à democracia teve consequências eleitorais. E não é uma exceção. Em outros países, como o Chile, por exemplo, 84% dos cidadãos se queixam do sistema democrático atual”, diz o relatório.

10. No Brasil, a satisfação com a democracia é a menor na região: apenas 9% se dizem satisfeitos.