18 de junho de 2018

PREFEITURA DO RIO QUER PRIVATIZAR O CENTRO DE TRADIÇÕES NORDESTINAS/FEIRA DE SÃO CRISTÓVÃO!

(Globo, 16) 1. Principal reduto nordestino no Rio desde que foi criada, em 1945, a Feira de São Cristóvão, como é chamado o Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, espera receber até um milhão de pessoas na comemoração da maior festa de São João da cidade, que será aberta às 19h30 desta sexta-feira e só acaba em agosto.

2. Mas a esperança dos 634 feirantes de ver o lugar lotado em sua época mais agitada agora se mistura à preocupação com o futuro. Muita coisa deve mudar até o fim do ano no tradicional ponto turístico, visitado por três milhões de pessoas anualmente, mesmo público do Cristo Redentor.

3. Será lançado o edital de licitação para escolher uma empresa interessada em gerir o espaço, com repasses para a prefeitura, que alega nunca ter recebido nenhuma contrapartida por ceder o pavilhão onde a feira passou a funcionar em 2003 — antes, as barracas ficavam do lado de fora da estrutura de concreto.

4. Por outro lado, a prefeitura não cumpria suas obrigações com a feira firmadas na Lei 2052/93 e também no decreto 27.416, de 2006, criado para “fortalecer a Feira Nordestina de São Cristóvão” e “promover a divulgação de aspectos culturais, sociais e folclóricos do Nordeste brasileiro”. A empresa que vencer o edital será obrigada a realizar uma série de obras de melhoria. A mais importante será a troca da planta elétrica do lugar, planejada para suportar um consumo muito inferior ao atual.

5. Para Messina (secretário da Casa Civil da Prefeitura), o novo modelo de gestão vai aumentar o profissionalismo e o potencial turístico da feira, além de melhorar sua infraestrutura.— Todos os dias ocorrem em média quatro sobrecargas elétricas na feira. São curto-circuitos que podem até causar incêndios. A prefeitura poderia prorrogar o contrato com a empresa dos geradores de luz, mas não vai. Quem consome é que deve pagar — afirma o secretário. — Queremos uma feira profissional, que gere recursos para o município e ofereça segurança aos visitantes.

6. Segundo o secretário, a Lei 2052, criada em 1993 para estimular o crescimento da feira, pode ser alterada, e o decreto 27.416 terá que ser revogado. O decreto estabelece que os próprios feirantes são responsáveis por gerir o espaço, por meio de uma comissão composta por cinco representantes eleitos.

7. O mossoroense Gilberto Teixeira, de 64 anos, autor de três livros sobre a história da Feira de São Cristóvão, onde possui uma barraca desde 1997, critica a decisão. Ele também é diretor executivo do Instituto Cultural da Feira, criado há doze anos para produzir os projetos e eventos culturais do espaço.

8. — Sem democracia, não há legalidade. O primeiro a ser feito pelos feirantes é organizar uma eleição e escolher os cinco representantes legais da feira, como determina a Lei 2052. Depois disso, vamos conversar com os cinco eleitos para saber como proceder — afirma Gilberto, um dos líderes do movimento que conquistou o pavilhão em 2003.

9. Para o vereador e ex-prefeito Cesar Maia, autor do decreto 27.416, a mudança no modelo de gestão “pode ter consequências graves”.— Messina e Crivella deveriam conhecer a história da Feira de São Cristóvão. Eram barracas espalhadas na praça e nas calçadas fora do Pavilhão. Havia problemas graves de higiene e de violência.   A inclusão deles no Pavilhão com projeto e obras pagas pela Caixa Econômica e a Prefeitura, ocorreu num acordo de participação conforme o decreto registra. Ignorar a história e a parceria ocorrida e realizar uma simples privatização pode ter consequências graves em função de resistências e conflitos.