Irresponsabilidade fiscal: Essa vontade de fazer as coisas sem avaliar se há recursos é a razão (da situação atual). Inventaram uma coisa que era completamente proibida antes, que é o poder público do Rio de Janeiro contrair empréstimos com a garantia federal, sem oferecer suas receitas como garantia. O (Guido) Mantega assinava tudo o que a Dilma mandava e, antes, o que o Lula mandava. O Lula vinha, lançava a pedra fundamental de uma obra que não tinha nem projeto, imaginava quanto aquilo iria custar e depois o governador encaminhava à Assembleia um pedido dos recursos para dar cobertura. Você entra em um processo de endividamento que, para o oportunismo fiscal, não significava nada. Quem pagaria a conta não seriam eles porque a garantia era do governo federal. Quem sabe fazer contas sabia que essa era a equação do governo do estado.
Retomada econômica: A situação do Brasil é melhor que a do Rio de Janeiro. O que acontece é o seguinte: teto de gastos é um nome elegante dado pelo ministro Henrique Meirelles, mas na verdade é medida de um tradicional monetarismo. Como você coloca dinheiro na economia? Com emissão ou com déficit público. À medida que ele disse que isso (déficit) parou e que não vai emitir dinheiro, o impacto desse monetarismo foi forte, violento. Mas quando o governo diz que vai precisar de uma suplementação de R$ 14 ou 15 bilhões e já tem um valor definido de déficit no ano passado de aproximadamente R$ 180 bilhões, isso significa uma impulsão Keynesiana ao PIB. Então, do ponto de vista do crescimento econômico, o déficit ou é resolvido através de crescimento ou de inflação.
Caixas pretas no Rio: Eu leio execução orçamentária, mas só sentando na mesa e conhecendo as caixas abertas, pretas ou o que seja, é que você pode ter uma ideia firme sobre a situação do Rio. Mas o secretário de Fazenda pedir exoneração depois de tudo resolvido (assinatura do Plano de Recuperação Fiscal do Rio de Janeiro com a União) é estranho. O Gustavo Barbosa resolveu tudo, qual o próximo passo dele: ministro da Fazenda. E qual foi o passo dele: renunciou.
Herança perversa: O problema é que não há gestão. O prefeito Crivella não tem vocação para isso. Quem sabe aprende? A herança perversa que recebeu foi as OS (Organizações Sociais). Era claro que aquilo ia estourar. O Rio gasta com OS quase toda a receita do IPTU. Mas como a crise maior de todas é a do PMDB, os vereadores do PMDB se aproximaram do prefeito para poderem sobreviver, ganhar espaço na máquina pública. Então, hoje, você tem um governo com certa tranquilidade, que não terá problema de votar o que precisa ser votado. Tem maioria mas não sabe o que vai fazer com ela por enquanto.
Legitimidade e populismo: Os próximos governantes vão ter que legitimar o mandato no exercício do cargo. Mas quem sabe não aparece uma Anita da política, sobe a favela, faz uma música… É o que antes se chamava de populismo. Vamos ver o que está passando no mundo. É um quadro difícil.
Candidatura a governador: Meu partido e o Rodrigo querem que eu seja candidato e eu tenho certeza que não devo ser candidato a governador. Não tenho a mobilidade que tinha há uns anos e também já não tenho mais idade para fazer demagogia. Mas um colega do partido diz que, se tenho 7% é ótimo porque é possível ir para o segundo turno com 15%. Então, ele diz que a gente está no jogo sem estar no jogo.
Segurança pública e intervenção militar: O que aconteceu nos últimos meses, não sei se pela ausência do policiamento ostensivo ou pela ação das UPPs, é que você teve uma dispersão das facções. Hoje, não se pode falar de Comando Vermelho. O Rio tem vários grupos e a polícia começa a dizer que alguns milicianos entraram no tráfico de drogas, o que espero que não seja verdadeiro porque é o esquema mexicano, que junta extorsão com tráfico. Agora vão fazer policiamento ostensivo e intervenções com conhecimento. Acho que os tiroteios vão diminuir. Esses grupos tendem a se acomodar.
Eleição nacional: Essa é uma confusão maior ainda. A hipótese de que o Bolsonaro cresce cada dia fica menor. Ele bateu em 20% e aí está, mas com isso vai para o no segundo turno. O único candidato do governo seria o próprio Temer. É um sonho do Temer, do Moreira Franco, mas não existe. Não tem tempo para produzir o resultado que precisa.
Intervenção militar e eleição: Em 1994, o Lula estava na frente e o Fernando Henrique em segundo. Até que o PT cometeu um erro estratégico. Resolveu ser um inimigo do Plano Real. Agora, quem se jogar no Rio contra a intervenção, vai ser a mesma coisa. A presença de um policiamento mais ostensivo vai produzir sensação de segurança por parte da população.