TAXA REAL DE DESEMPREGO EUA X TRUMP!
1. Apesar das notícias sobre a queda da taxa de desemprego americano e a consequente aproximação do pleno emprego, há dois dados interessantes a se analisar.
2. A taxa de participação da força de trabalho (LFPR em inglês), semelhante à nossa taxa de atividade (relação entre a população com mais de 16 anos empregada ou desempregada procurando emprego nas últimas 4 semanas e população total acima de 16 anos menos detentos, em asilos e militares da ativa) e a taxa real de desemprego.
3. A taxa real de desemprego leva em consideração os marginalmente vinculados à força de trabalho (aqueles que querem trabalhar e procuraram por emprego no último ano, mas não nas últimas 4 semanas) e os trabalhadores desencorajados (aqueles que querem e estão disponíveis para trabalhar, mas desistiram porque acreditam que não há emprego para eles).
4. A taxa de desemprego apresentada pelo governo americano foi de 4,1% em janeiro, enquanto a taxa real ficou em 8,2%, havendo, inclusive, aumento marginal de novembro a janeiro, segundo a Agência de Estatísticas do Trabalho, do Departamento de Trabalho americano (https://www.bls.gov/news.release/empsit.t15.htm).
5. A LFPR vem se mantendo na faixa de 62%, após o pico de 67% em 2000. Um artigo de 2016 da mesma agência aponta algumas razões e detalhes do porquê dessa queda (https://www.bls.gov/opub/mlr/2016/article/labor-force-participation-what-has-happened-since-the-peak.htm), como o envelhecimento dos baby boomers, que acabam deixando o mercado de trabalho; e um crescimento no número de adolescentes matriculados nas escolas. Porém, ele aponta para um declínio na participação dos homens entre 25 e 54 anos no mercado, principalmente entre os com menor nível de instrução.
6. Segundo o artigo, estudos sugerem que oportunidades de emprego para homens com menor nível de instrução têm se deteriorado pelas mudanças na tecnologia e avanço da globalização. Entre os homens, os salários reais (já descontada a inflação) para aqueles com segundo grau incompleto e completo caíram, entre 2000 e 2015, 6,8% e 6,6%, respectivamente, tornando esses tipos de emprego menos desejáveis.
7. Foram justamente os homens brancos com menor nível de instrução o grupo que votou com maior peso em Trump. Segundo o Pew Research Center (http://www.pewresearch.org/fact-tank/2016/11/09/behind-trumps-victory-divisions-by-race-gender-education/), a diferença de 39% (67% – 28%) de Trump para Clinton entre os eleitores homens brancos sem terceiro grau completo foi a maior desde os anos 80. Assim como a vantagem de 52% – 44% entre todos os eleitores sem terceiro grau (a vantagem de Obama sobre Romney foi de 51% – 47%).
8. Portanto, apesar de a taxa de desemprego de fato estar caindo, a taxa de participação da força de trabalho e a taxa de desemprego real vêm se mantendo estáveis, sugerindo que, justamente, parte crucial do eleitorado de Trump não está sendo beneficiada, o que pode vir a gerar frustração e problemas futuros para ele.