A INDIFERENÇA E A POLÍTICA!
1. O Papa Francisco, em seu discurso conceitual no Theatro Municipal, construiu uma dialética pouco usual: violência e indiferença. Sublinhou que o outro lado da violência não pode ser a Indiferença –que adjetivou de egoísta. E como construtor de pontes (pontífice), ofereceu a alternativa do diálogo, a ‘cultura do encontro’, nas palavras dele.
2. Essa ênfase na crítica à Indiferença como um sentimento não cristão (anticristão), já havia sido destacada pelo Papa Bento XVI em sua trilogia sobre a vida de Jesus Cristo. Papa Francisco reforça-a, colando-a à política e à conjuntura.
3. O ex-presidente francês François Mitterand, em seu segundo governo (já com um câncer em progresso), aceitou a proposta de um documentário onde 3 vezes por semana gravaria respostas a quaisquer perguntas sobre a conjuntura, sobre ele e sobre a França. O compromisso era que só depois de sua morte, seria editado para a TV. Assim foi e se tornou um importante documento politico.
4. Numa reflexão, Mitterrand afirma com sua voz escandida: “A política desenvolveu em mim o sentimento da Indiferença”. Para quem viu e reviu o documentário, leu Bento XVI e ouviu Francisco, é inevitável correlacionar os três conceitos como um só. A política nos tempos de hoje desenvolve em seus atores o sentimento da Indiferença.
5. E esse é o maior de todos os pecados na política dos últimos anos. O que é o comportamento de Berlusconi senão a Indiferença? Ou de Dominique Strauss-Kahn? O que são esses fatos mostrados na política brasileira, em restaurantes luxuosos de Paris, em programas cercados de luxo e companhias endinheiradas, em jatinhos públicos ou privados, etc.? Corrupção? Pode ser. Mas pode não ser, quando se a entende como enriquecimento pessoal.
6. Mas é inevitável concluir, depois de ouvir Mitterand e Francisco e ler Bento XVI, que a cultura da Indiferença –indiferença com a vida das pessoas, com a opinião pública- que o ponto fulcral do comportamento político nos dias de hoje, que provoca tanta revolta, é a certeza da Indiferença dos políticos com a realidade que os cerca.
7. Indiferença com amplitude e alcance bem maiores que a corrupção (que pode não atingir pessoalmente a alguns atores), pois atinge a quase todos, quase generalizadamente. Mesmo que sem a experiência de Mitterand ou a sabedoria de Bento e Francisco, é o que passa na cabeça de todos e o que os faz rejeitar a política e os políticos e leva tantos à indignação nas ruas ou não, pelo mundo todo.
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IBOPE: AVALIAÇÃO DOS PREFEITOS DO ESTADO DO RIO É TAMBÉM A PIOR DO BRASIL!
1. No caso do Estado do Rio há uma característica que o diferencia dos demais Estados pesquisados: a Capital representa um pouco mais de 40% dos eleitores e a Região Metropolitana mais de 80%.
2. Avaliação do Prefeito. Ótimo+Bom 19% e Ruim+Péssimo 44%.
3. Avaliação dos Serviços Públicos. Muito Alta+Alta X Baixa+Muito Baixa. Limpeza Urbana 5% X 61% / Educação: 2% X 79% / Saúde: 1% x 94% / Conservação das ruas…: 4% X 66% / Segurança Pública: 2% X 88% / Transportes: 3% X 78% / Atendimento à população: 3% X 61% /
4. Como os prefeitos se comportaram diante das manifestações de rua. Escala 1 a 5. Desaprova Totalmente 53% / 13% / 16% / 6% / Aprova Totalmente 3%.
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“MÁSCARA DO RIO, SATURADA POR ESSA BOLHA DE OTIMISMO ACRÍTICO, QUER CAIR”!
(trechos da coluna do jornalista Arnaldo Bloch – Globo, 27) 1. O Rio viveu uma euforia: morros libertos, choque de ordem, Copa do Mundo e Olimpíadas no papo, pré-Sal: anunciava-se um ciclo de ouro para a cidade, com explosão hoteleira, maquiagem das praias, Porto Maravilha, BRTs, algo jamais visto, nem quando o Rio era capital. Cabral não cabia em si. Paes era só paz. Beltrame, o paladino da Justiça.
2. Não havia quem, impunemente, não comprasse a ideia. E quem ousasse dizer um “ai”, pedir prudência, era tachado de inimigo, espírito de porco, na contramão das evidências.
Hoje, passada a primeira onda recente de manifestações, parece que a máscara da cidade, saturada por essa bolha de otimismo acrítico, quer cair.
3. O próprio Beltrame, para quem Cabral repassa todas as culpas, agora, da vergonhosa ação da PM diante dos últimos tumultos de rua, já não é mais aquele. Fico imaginando se o rapaz fichado e demonizado rapidinho pela opinião pública fosse de fato processado criminalmente. O militante, já ia se convertendo num bode expiatório ideal para o agora impopular Cabral despejar sua tendência autoritária (sua fome de inconstitucionalidade ficou clara com a primeira versão do decreto da comissão dos vândalos).
E o que vemos nos transportes, mal o Papa põe os pés na cidade? A completa pane dos trens e metrôs ao primeiro verdadeiro teste de capacidade. E a ignorância sobre o trajeto do pontífice, que podia ter desandado em tragédia.
4. A cidade-evento está pagando mico, sendo zoada por ciumentos estrangeiros, deixando inseguros os exploradores dos referidos eventos e os turistas.
5. É isto o que o Rio está se tornando: uma cidade-padrão. Um colosso chato e besta. Ordem confunde-se com uniformização, e uniformização, como todo mundo sabe, é o primeiro passo para a exclusão. A cidade partida continua partida. A partida mal começou. Se o Rio e suas autoridades não baixarem a bola, vai chover a chuva furiosa dos céus na etapa final, vai vazar a lama do Posto 5 que continua fedendo, e o consolo vai ser uma leitura pública do “Ai de Ti Copacabana” nas exéquias. Mas sobreviveremos.