ATERRORIZADOS, RUSSOS NÃO TÊM PARA ONDE IR!
(Ilia Krasilshchik, diretor do website que oferece apoio a pessoas afetadas pelo governo russo – O Estado de S. Paulo, 28) “Olá, minha mulher está grávida e estou pagando hipoteca. Ela está em pânico, e eu não tenho dinheiro para ir ao exterior. Como consigo escapar do recrutamento?” Recebemos esta mensagem no Help Desk, website que eu e outros jornalistas colocamos no ar em junho para ajudar as pessoas.
O homem que a escreveu, após completar o serviço militar obrigatório, sete anos atrás, está sendo recrutado para lutar na guerra na Ucrânia. O governo russo não se interessa em quem vai pagar a prestação de sua hipoteca ou cuidar de sua mulher grávida. Após a mobilização decretada por Vladimir Putin, recebemos dezenas de milhares de mensagens como esta. A julgar pela reação, os russos estão apavorados.
SEM SAÍDA.
Para cidadãos comuns, que querem escapar desse destino infernal, não há muitas opções. Alguns cruzaram a fronteira de Belarus, mas recebemos informações de que as autoridades belarussas, cúmplices de Putin, planejam deter os russos. Dias antes da mobilização, Letônia, Lituânia, Estônia e Polônia proibiram a entrada de quase todos os russos.
A fronteira de 1,6 mil quilômetros com a Ucrânia está, evidentemente, fechada. A Finlândia ainda permite a entrada de russos, mas eles precisam ter um visto Schengen – o que apenas 1 milhão de russos têm. A Geórgia está aberta, mas a fila para atravessar demora mais de 24 horas, e muitos têm acesso negado se não apresentarem alguma justificativa. Também há destinos mais remotos, como Noruega, Casaquistão, Azerbaijão e Mongólia. Chegar a qualquer um desses países a pé, de bicicleta ou de carro é uma empreitada intimidadora.
Os russos viraram párias. Ninguém quer recebê-los. Além disso, não se sabe por quanto tempo a Rússia permitirá que eles deixem o país. Algumas autoridades regionais já proibiram homens de deixarem suas cidades.
Muitos se perguntam por que os russos não protestam? Pois muitos estão protestando. Na primeira noite após o recrutamento, a polícia prendeu mais de mil em 30 cidades. Alguns foram espancados. Sobre depor Putin, duvido que haja alguém capaz de dizer como fazê-lo. Não há nenhum caminho visível de um futuro melhor para os russos.