ENTREVISTA DE CESAR MAIA PARA O GLOBO, 25/09 – PARTE I!
Com as malas prontas para sair do DEM, o ex-prefeito do Rio de Janeiro e vereador Cesar Maia avalia que a fusão com o PSL é praticamente certa, e que o novo partido deverá marcar posição à direita do espectro ideológico. A guinada, comandada por ACM Neto, presidente nacional da sigla, foi marcada pelo racha devido a divergências na escolha do sucessor de Rodrigo Maia na Câmara dos Deputados, que acabou expulso do partido em junho. Diante do cenário que se desenha para a eleição presidencial de 2022, Maia ainda especula desistência de Bolsonaro e enfraquecimento de Lula.
• De zero a dez, qual a chance da fusão entre DEM e PSL realmente se concretizar nos próximos meses?
Sete. Temos que aguardar os desdobramentos, especialmente nos estados. As informações que tenho recebido é que a escolha dos presidentes dos diretórios estaduais será confusa. Veja o caso do Rio. Um acordo de ACM Neto com o pastor Silas Malafaia levou o deputado Sóstenes Cavalcante à presidência do DEM no Rio. Mas, se houver mesmo a fusão, o presidente será o Waguinho, prefeito de Belfort Roxo pelo PSL. Em São Paulo, difícil saber como vai se resolver. Esse processo de fusão vai demorar no mínimo 90 dias.
• A união dos dois partidos é boa para a centro-direita brasileira?
Pelo que tenho acompanhado, a fusão formará um partido de direita e não de centro-direita. O DEM estava indo por um caminho de centro e optou por migrar para a direita. É uma decisão com foco apenas nas eleições de alguns governadores e deputados.
• O senhor acha que ACM Neto foi desleal com seu filho Rodrigo Maia em fevereiro na questão da liberação da bancada do DEM para apoiar Arthur Lira na disputa pela presidência da Câmara com Baleia Rossi?
Não tenho como avaliar. Mas os fatos posteriores mostram que havia uma pressão para empurrar o DEM para direita. Rodrigo já ocupava explicitamente o campo do centro.
• O senhor sairá do DEM assim como Rodrigo?
Sair do partido sem fusão exigiria uma solução jurídica com advogados de um lado e outro. Com fusão não haverá complexidade. Bastará uma escolha.
• A relação ruim de Gilberto Kassab com Rodrigo Maia não torna difícil a ida de vocês dois para o PSD, movimento feito pelo prefeito e aliado Eduardo Paes?
São dois profissionais e sabem bem que não estarem longe é bom para os dois.
• Como o senhor acha que Bolsonaro chegará para a eleição de 2022?
Na balança de probabilidades, o mais provável é desistir da candidatura sem decepcionar seu time por ficar fora do segundo turno. E desenhará uma desculpa para seus aficionados: tipo, “assim não dá para governar”. Ele já vem repetindo esse discurso. Sem Bolsonaro, Lula perderá o sparring preferencial e começará a perder musculatura. O quanto perderá depende da qualidade política das alternativas e dos discursos propositivos oferecidos. Não seria surpresa se a eleição de 2022 ocorresse em torno de outros dois nomes excluindo Lula e Bolsonaro. Em junho de 1994, Lula estava eleito. O Plano Real em julho desmanchou seu favoritismo. Fernando Collor só surgiu na pesquisa para valer também em junho. Ambos os casos no ano da eleição. Falta muito ainda.
• Como avalia os outros nomes cogitados para a Presidência até o momento?
Na disputa do PSDB entre João Doria e Eduardo Leite, não vejo como São Paulo deixará de disputar a cabeça. Basta ver toda a história da República. Há também que se aguardar a decisão de Rodrigo Pacheco e esperar ele esquentar nas pesquisas. A opção por Minas Gerais é inteligente. Abre um caminho. Trata-se do segundo colégio eleitoral do país.
• Pacheco deixará o DEM?
Acredito que sim. Segundo se diz, a conversa com o PSD avançou muito. E, como senador, ele pode mudar de partido quando quiser.
• E o seu correligionário Luiz Henrique Mandetta, alguma chance de ser candidato ou vice em outra chapa?
Se vier a fusão da forma anunciada, não vejo espaço para ele. Esse novo partido será criado para eleger deputados apenas.