RODRIGO MAIA: SÓ UM ESTADO FORTE E ÁGIL VENCE O VÍRUS!
(Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados – O Globo, 25) O início e o alastramento da pandemia do Covid-19 pelo mundo impuseram a necessidade de ações rápidas. Naturalmente, as primeiras medidas voltaram-se para proteger os cidadãos e forçar o isolamento. Isso ocorreu predominantemente na China e em menor grau, posteriormente, na Europa e nos Estados Unidos.
A oferta de soluções diversas para os problemas imediatos de saúde logo cedeu espaço para o debate sobre os efeitos econômicos e sociais da crise.
Urge ampliar os gastos extraordinários na área da saúde, pois é vital deter o avanço da contaminação pelo vírus Covid-19. Eventuais desperdícios dessas verbas disponibilizadas em caráter excepcional podem ser evitados lançando-se mão das ferramentas criadas a partir das sofisticadas curvas formuladas em tempo real pelos economistas. Essas curvas são explicadas didaticamente pela imprensa; as explicações ganharam as redes sociais, onde são debatidas pela sociedade.
No entanto, maior que os desafios na compra de insumos, contratação de médicos e adaptação de hospitais, é a coordenação das ações num país de dimensões continentais e enormes desigualdades regionais como o Brasil. Ao menos nessa área, além do Estado, podemos contar com a competência da gestão dos sistemas privados de saúde.
O mesmo não ocorre com o mercado e a sociedade em geral, que ficam à mercê da desaceleração da atividade econômica, decorrente do fechamento do comércio, das escolas, e do confinamento social.
É normal que não haja suficiente certeza sobre os efeitos maléficos dessa crise, tampouco quanto às medidas que devem ser tomadas para mitigá-los. Há inúmeras propostas apresentadas pelas empresas, por associações, pela sociedade civil organizada, pelos intelectuais. Existe, contudo, muita assimetria de informação. Isso ocorre num momento em que as notícias circulam abundantemente e de forma muito rápida. Nesse contexto, só um Estado forte, unido e coordenado dará conta do caos e oferecerá soluções ao cidadão.
A sociedade precisa de previsibilidade, e isso só o Estado pode oferecer neste momento. Não se trata de superestimar os efeitos da pandemia. É preciso fazer o cidadão voltar a confiar no Estado. Para conquistar essa confiança é preciso comunicar com clareza o planejamento das ações que estão a ser pensadas. Provavelmente, haverá mudanças em algumas das ações previstas inicialmente. Os dados e o cenário se alteram a cada dia, e é até recomendável que os planos sejam revistos à medida que avança o conhecimento do inimigo – o vírus e suas curvas de propagação. Mas o norte tem de ser, sempre, claro e convergente. É essencial coordenar as ações entre a saúde e a economia, evitando que pessoas que não morram da doença terminem vitimadas pela fome. É um equilíbrio difícil.
A ocorrência de erros e de acertos nessa guerra contra o vírus era esperado. Tanto aqui, quanto lá fora. Olhando para trás, e para o sucesso e o fracasso da experiência dos países atingidos pela pandemia antes do Brasil, é fundamental ter humildade para aprender lições e reverter as ações que porventura tenham se mostrado precipitadas. Falar em fechamento de rodovias, apartando municípios e às vezes regiões inteiras do resto do país, ainda faz sentido? Isso foi posto sobre as mesas de debate. É correto? A resposta depende de uma construção coletiva e cooperativa dos vários entes da federação, coordenadas num mesmo sentido. À disposição deles, há uma infinidade de dados e informações, além de excelentes técnicos dispostos a ajudar. O mesmo precisa ocorrer na área econômica, com relação ao socorro às empresas e à proteção do emprego. Muitos são os atores envolvidos. Sou do Parlamento, o Congresso é a minha área de atuação central. E o Parlamento brasileiro tem contribuído para o debate e para tornar ágeis as políticas de enfrentamento dessa pandemia. Jamais faltamos ao país, nós deputados e senadores, e nunca faltaremos, nos momentos cruciais em que sabemos estar ao lado da construção de soluções. É imprescindível haver organização, rotinas e coordenação da porta para dentro.
Não se sabe qual será o final da história, mas é preciso construir o roteiro do filme com base nas análises existentes. Não basta um álbum de fotografias, em que cada uma delas é trocada todos os dias, deixando rasgos e buracos para trás. Nunca foi tão urgente colocar em prática a coordenação entre os poderes da República. Começarmos concordando com um diagnóstico baseado em evidências empíricas e não em opiniões, além de um claro objetivo comum no curto, no médio e no longo prazo, é o melhor passo a dar a fim de avançarmos na proteção do Brasil e dos brasileiros.