CRIVELLA: A DISPUTA PELA HEGEMONIA FILOSÓFICO-POLÍTICA NO RIO!
1. Pode-se criticar o prefeito Crivella por várias coisas, menos ter iludido os cariocas. Seus adversários -durante a campanha eleitoral, os programas e os debates na TV- sempre prefixavam Crivella não como senador, mas, sim, como Bispo.
2. Assim foi eleito. E, imediatamente, iniciou a afirmação simbólica de sua filosofia política. Não entregou as chaves ao Rei Momo e não compareceu ao desfile das escolas de samba, visto como uma festa pagã e associado na origem à macumba, mães e pais de santo.
3. O conflitivo relacionamento entre os evangélicos neopentecostais e o espiritismo popular explica por que a hegemonia religiosa nas favelas passou a ser amplamente a dos neopentecostais, quase eliminando os “terreiros” das favelas.
4. A montagem de sua equipe, com poderosas estruturas para a secretaria da Casa Civil e da Conservação, em parte das ex-subprefeituras e das administrações regionais, com nem tão discretas ocupações nas chefias em escalões inferiores, alteraram de forma significativa a estrutura filosófico-ideológica da prefeitura.
5. O comércio e o transporte -alternativos- que Crivella sempre afirmou em campanhas como sua base eleitoral, tiveram quase imediatamente garantidos os seus espaços.
6. O decreto sobre o controle dos eventos e o cancelamento dos patrocínios daqueles que não convergiam filosófico-religiosamente com o que sempre criticou, reafirmaram essa postura e emblematizaram suas prioridades.
7. O slogan de Crivella em campanha e em governo -cuidar das pessoas- registrava uma visão de governo que deixava de lado questões de qualificação administrativa e de política urbana. E assim se confirmou.
8. Sua base evangélica fala para 20% dos eleitores, mas, com o corte social e sub-regional, fala para mais de 30% dos eleitores. Com o controle de uma máquina administrativa experimentada e apontando para a base da pirâmide social, Crivella não terá dificuldade em se reeleger, até porque, na fase final de seu governo, terá um cenário econômico em expansão.
9. Os servidores públicos profissionais, com direitos adquiridos, se sentem afetados por suas políticas. Mas este não é o foco filosófico-eleitoral de Crivella.
10. No outro lado, as forças políticas com crivo ideológico mais à direita ou mais à esquerda ou mais ao centro, tendem a se manter divididas, oferecendo uma confortável maioria a Crivella.
11. Os setores médios profissionais e intelectuais e a imprensa de referência já estão esperneando, frustrados com o que entendem como prioridades governamentais. Crivella precisa de recursos para dar lastro a suas ações – digamos sociais. E não demorou. Aí estão as leis do IPTU e do ITBI, a prorrogação da lei de anistia negociada… E não tem nenhuma dificuldade de criminalizar as obras públicas, redirecionando suas prioridades.
12. Se a oposição se mantiver em suas tradicionais diferenças políticas e visões administrativas e urbanas, o trabalho de Crivella estará facilitado. E sua base de mídia será mais do que suficiente. E estaremos falando de 2024 ou mais.