23 de março de 2017

HOLANDA: O ÚLTIMO CAPÍTULO DA DEBACLE SOCIALDEMOCRATA/SOCIALISTA NA EUROPA!

1. Os jornais La Nacion (AR-Luisa Coradini) e El País (ES-Josep Ramoneda), em avaliações das últimas eleições na Holanda, mostraram um quadro muito diferente das manchetes da imprensa. A imprensa destacou a derrota do populismo xenófobo de direita. Afinal, era esse o temor europeu que viesse a obter a primeira maioria.

2. Ramoneda pergunta: Alívio ou insensatez? E lista as manchetes da imprensa europeia: “Holanda derrota o populismo e a xenofobia”, “Holanda se mobiliza contra o ascenso do populista Wilders”, “Holanda votou e a Europa pode respirar tranquila”, “Holanda freia o auge do populismo xenófobo”, “Holanda dá as costas ao populismo e a xenofobia e Europa respira”.

3. Se houve uma boa notícia na eleição foi uma participação recorde de 86%. Wilders, em nenhuma pesquisa, apareceu como líder e alternativa de governo. Wilders ficou abaixo de suas expectativas. Mas avançou 5 cadeiras num parlamento de 150, e elegeu 20 deputados. O primeiro ministro Rutte, líder da direita, venceu as eleições elegendo 33 deputados, mas perdeu 8 cadeiras.

4. Os socialistas, que tinham 38 deputados, desintegraram e elegeram 9. A direita tem conseguido que as campanhas eleitorais girem em torno de sua agenda, afirma Ramoneda, e a esquerda deixa de lado seus erros na gestão das crises e sobre as reformas necessárias para recuperar a coesão social e as expectativas sobre o futuro. Frear a extrema direita e garantir a vitória de uma direita mais liberal no econômico e mais conservadora no ideológico não justifica esse triunfalismo.

5. Luisa Corradini, no La Nacion, diz que “políticos e analistas obcecados pelo possível avanço da extrema direita não se deram conta dos resultados efetivos das eleições na Holanda: a socialdemocracia europeia, que foi uma das forças políticas dominantes do século XX, está em perigo de morte.”

6. Corradini chama de “estrepitoso fracasso da esquerda moderada holandesa”. Passou de 28% dos deputados para 5,7%. Os socialdemocratas participavam do governo em coalizão com os conservadores do primeiro ministro Mark Rutte. A soma desses dois partidos, que controlavam a metade do parlamento, agora ficou com pouco mais que 25%.

7. Corradini lembra que não é um caso único na Europa. “Ano passado a esquerda moderada –socialdemocrata- europeia perdeu 12 das 18 eleições nacionais, assim como os plebiscitos/referendos na Itália e na Grã-Bretanha. “É toda a socialdemocracia que se desmorona”, afirmou Laurent Bouvet, da Fundação Jean-Jaurès. Um ciclo inaugurado pelo Pasok da Grécia, que em poucos anos passou de 44% para 5%.

8. O analista Jean-Claude Guillebaud explica e diz que “nos anos 1970 e 1980 a socialdemocracia encarnava a única alternativa crível aos regimes comunistas. Mas quando estes desapareceram, seus grandes projetos de economia regulada e Estado do Bem Estar se haviam esgotado”. No início da década passada, a esquerda moderada buscou integrar-se à onda liberal e assim deixou de ter a iniciativa e para muitos adaptou-se e traiu seus compromissos”.