AS GREVES DAS PMs, OS SAQUES, VANDALISMO, LINCHAMENTOS E PREDAÇÕES!
1. Fatos dispersos e aparentemente desconexos podem ter causas comuns. As greves das PMs da Bahia e de Pernambuco produziram, como reações imediatas, centenas e centenas de atos de pilhagem, saques e aumento da criminalidade. Como se sem a presença da polícia setores da população colocassem para fora uma violência contida, apenas contida pela presença da polícia.
2. Em grandes cidades, o policiamento procura não ter coreografia com fardas, armas e giroscópios. Assim, se passa a sensação de segurança e que a própria população mantém espontaneamente um comportamento adequado.
3. Simultaneamente àqueles fatos, têm ocorrido, por todos os lados, atos de barbárie, tipo justiça pelas próprias mãos. E ocorrem espalhados pelo país. São linchamentos e assassinatos como vingança “social” e com alguns aplausos.
4. Junto às manifestações de protestos, têm vindo ações de violência. No início, com a coreografia dos black blocs por referências internacionais. Depois, e agora, junto a manifestações de pequeno e médio portes, se multiplicam ações predatórias. Centenas de ônibus queimados iluminam estes fatos.
5. E fechando esse conjunto, grupos dentro de greves massivas, atuando de forma violenta com ataques e depredações.
6. É inevitável avaliar o vínculo difuso entre essas ações violentas. Que clima é esse que ativa tais comportamentos? O que ocorreu nos últimos anos que incorporou em setores da população uma reação violenta aos problemas e às circunstâncias. E em que medida fatos determinados estimulam outros fatos determinados e com isso produzem correntes e redes espontâneas?
7. Lembre-se que os fatos sociais muitas vezes são cumulativos e impulsionadores crescentes pelos próprios fatos ou pelos efeitos-demonstração.
8. Que os sociólogos, politólogos, psicólogos, especialistas policiais e militares, autoridades, políticos, lideranças sociais, etc., mergulhem nesses fatos já, que compreendam as suas dinâmicas para reverter tais tendências. Quanto mais se acentue e se espalhe a violência mais, no futuro as ações repressivas terão maior intensidade.
9. É hora! Já passou da hora! A sensação generalizada é que não há mais autoridade.
* * *
VIOLÊNCIA GERAL! “EM MAIS DE 60 ANOS, NUNCA VI NADA IGUAL”!
(Zuenir Ventura – Globo, 17) 1. Depredar 708 ônibus em dois dias é uma proeza inédita. Em mais de 60 anos no Rio, nunca vi igual. Algumas semanas fora, e a volta a um país de cara amarrada, espumando de raiva, quebrando e depredando como se estivesse na Idade das Pedras, além das de crack. Depredar 708 ônibus em dois dias é uma proeza inédita. Em mais de 60 anos no Rio, nunca vi igual.
2. Além de jogar pedras em ônibus, bancos, lojas e prédios públicos, a moda (nacional) é também depredar pessoas, como fizeram com a pobre senhora em Guarujá, a partir de um boato falso, num espetáculo de crueldade digno dos antigos circos romanos. Ou como duas moças, de 19 e 15 anos, fizeram em Foz do Iguaçu com uma adolescente de 13, executada igualmente a pedradas por ciúme do namorado de uma delas.
3. Por pouco, a população não fechou o círculo da barbárie, linchando as duas criminosas, o que seria o sétimo justiçamento este ano no país. E há os que, em vez de pedras, matam atirando vasos sanitários de uma altura de 24 metros, como aconteceu num estádio em Recife. Desde que Freud passou a substituir Marx nas análises da realidade, sabe-se que o meio ambiente não explica tudo. Assim, para entender o sanatório geral que é hoje o Brasil, recomenda-se chamar, além dos sociólogos, os psicanalistas.
* * *
(Folha de SP, 22) 52% apoiam as manifestações hoje. 90% acham que há corrupção na Copa. 45% são a favor da realização da Copa e 43% são contra. Para 76%, o Brasil não está preparado para sediá-lo. E, para 66%, o torneio irá trazer mais prejuízos que benefícios para o país. 63% afirmam ser contra as manifestações durante a Copa. Mas para 76%, os protestos contra a Copa irão aumentar até lá.
* * *
LÍBIA MERGULHADA NO CAOS AO SABOR DAS MILÍCIAS!
(BBC, 20) 1. Líbia está mergulhada na instabilidade desde o derrocamento do coronel Muamar Gadafi em outubro de 2011. Desde então, milícias irregulares ostentam o poder de fato em extensos territórios enquanto cinco governos foram se sucedendo numa luta por assumir o controle do país.
2. Quem controla a Líbia? Ninguém e esse é o problema. Há numerosos grupos armados, uns 1.700, com objetivos muito diferentes, mas com um denominador comum: dinheiro e poder. Trata-se de grupos ideologicamente divididos: alguns são islamitas, outros secessionistas e há também os liberais. E mais: as milícias também se diferenciam por linhas étnicas e regionais, o que faz torna a situação uma explosiva mistura.
3. Não eram aliados? Efetivamente, hoje aparecem divididos e antes estavam unidos pelo ódio ao coronel Gadafi, mas nada mais que isso. As milícias tinham suas bases em diferentes cidades e lutam suas próprias batalhas. Depois de 4 décadas de governo autoritário sabem pouco de democracia. Por isso não souberam forjar alianças e construir um novo regime baseado no estado de direito. Os milicianos tomaram instalações petrolíferas operadas por empresas ocidentais, o que levou a uma enorme queda da produção, ainda que sem impacto notável nos mercados globais.
4. Quais são as principais milícias? Ansar al Sharia é considerado o mais perigoso dos grupos islamitas armados na Líbia. Analistas apontam que teria forjado alianças com outros grupos islamitas. O coronel Kalifa Haftar também possui uma poderosa milícia. Haftar esteve por trás do ataque aéreo de 16 de maio contra uma base aérea militar em Bengasi e no assalto dois dias depois ao parlamento em Trípoli.
5. Quem é o coronel Haftar? O coronel Haftar esteve junto a Gadafi quando tomou o poder em 1969 e jogou um papel fundamental na incursão militar da Líbia no Chade nos 80. Em 1987, foi preso e anos depois após ser libertado fugiu para os EUA. Reapareceu na Líbia durante a rebelião contra Gadafi e formou uma milícia a partir de desertores das forças leais a Gadafi. Para muitos líbios, segue sendo uma figura escura que provoca muita instabilidade.
6. A situação da Líbia é muito mais anárquica porque o exército se desintegrou após a queda de Gadafi, a diferença do Egito. Líbia nunca teve grupos políticos bem organizados que defendam os interesses de suas bases. Dessa forma o governo está à mercê das milícias. De fato, paga a muitos milicianos com a esperança de comprar a sua lealdade e ajudar a construir um exército nacional, mas há muito pouca evidência de que isso esteja ocorrendo.