21 de outubro de 2013‏

SETORES DA ESQUERDA NÃO ENTENDEM A DINÂMICA DAS REDES SOCIAIS E ACUSAM MANIFESTAÇÕES DE FASCISTAS!

1. Em artigo (Primavera Brasileira ou Outono Democrático?) na revista “Inteligência” (terceiro trimestre-2013), o importante cientista político e professor do IESP/UERJ, Fabiano Santos, sublinha a ideia que vem circulando pelas esquerdas, que as manifestações de rua no Rio estariam perigosamente influenciadas por um fascismo militante. Ele diz:

2. “Mas se a ativação do tema da corrupção não foi surpreendente, os ensaios de aproximação das ruas com o fascismo, sim, acabaram assustando bastante… Boa parte dos manifestantes principalmente aqueles vinculados a partidos políticos, em geral de orientação esquerdista, sofreram duro revés… No dia 20 de junho, militantes de partidos políticos e sindicatos tentaram participar de manifestações. Tiveram suas bandeiras e cartazes destruídos… Percebido o problema pelo núcleo inicial de manifestantes, tratar-se-ia agora de uma questão de “disputar o significado das ruas”. A palavra de ordem dos entusiastas das manifestações tornou-se então não permitir que os fascistas dominassem a cena, não permitir que a direita política prevalecesse na tradução do sentimento difuso de insatisfação e inconformismo e canalização da nova energia societal brasileira. A equação fascista, antes apenas recôndita nas mentes de segmentos da elite, leitores de diários cariocas e paulistas, agora é clara e despudoradamente verbalizada em nossa ‘common parlance’.

3. Não se trata apenas da reflexão de um intelectual de porte, mas do que líderes de partidos de esquerda –com ou sem poder- vêm repetindo nos últimos dias. Independente de numa massa difusa se ter de tudo, além de fascistas, anarquistas, punchistas e insurreicionista utópicos de esquerda, a questão não está nesses grupos, certamente marginais, e maximizados agora por estas verbalizações desde setores da esquerda.

4. O ponto está neles terem sido formados em estruturas organizacionais –políticas e sociais- hierarquizadas, onde os líderes são vocalizadores e interlocutores. Quando entram as redes sociais, horizontais e desierarquizadas, a formação deles entra em pânico: como explicar isso? Massa sem líderes? Não há interlocutores? Os manuais leninistas onde se formaram não contém essa hipótese. Nem poderia no final do século 19 e início do 20 onde os únicos meios de comunicação eram a presença física, o papel e o grafite.

5. O que precisam entender é que está mudando o conceito de democracia direta, da associativa, sindicalista, para outra –em redes individualizadoras, onde os interlocutores são… todos. Como estamos no início desse processo, e não se pode ainda projetar de que forma a democracia direta das redes vai se cristalizar, melhor seria que mergulhassem nas pesquisas que hoje se desenvolvem, desde a leitura de Manuel Castels, até os modelos simulados de formação de opinião pública em Columbia ou nos Provedores.

6. Em vez de uma reação psicótica ao risco de “meu mundo caiu”, melhor seria ajudar a construir esse outro mundo de participação popular, dando a ele uma nova organicidade.

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2 TRECHOS SELECIONADOS DO ARTIGO DO PROFESSOR ADALBERTO CARDOSO: PRIMEIRA PARTE!

(Adalberto Cardoso – sociólogo e professor do IESP-UERJ- revista INTELIGÊNCIA – terceiro trimestre de 2013 – A Mercantilização da vida coletiva e as jornadas de junho)

1. A cidade brasileira, grande ou pequena, é resultado da combinação de interesses privados múltiplos com políticas públicas que apenas eventualmente têm no horizonte, justamente, o direito à cidade. Esse termo denota bens públicos, políticas de acessibilidade, mobilidade, lazer, emprego etc., voltadas para todos, portanto universais. Os capitais privados não têm e não podem ter essa perspectiva. Seu objetivo é o lucro, e só agirão tendo como horizonte o bem comum se isso lhes for vantajoso. E apenas os poderes públicos podem gerar incentivos seletivos (na forma de recompensas ou punições) tais que forcem os capitais privados a investir com vistas no bem comum.

2. As cidades brasileiras não são assim. Elas não são planejadas para conferir aos citadinos o direito a ela. Elas, por assim dizer, se “deixam construir” para favorecer os negócios. O território urbano, no Brasil, é o resultado, então, da combinação de interesses dos capitais imobiliários (das construtoras e do mercado financeiro), comerciais, industriais e de transportes, aos quais se sobrepõem os capitais acessórios de comunicações e energia, todos encontrando nos poderes públicos os elementos facilitadores de sua acumulação. A população está, obviamente, no horizonte, já que é ela quem consome e, principalmente, é ela quem vota. Mas seu direito é mais propriamente um resíduo do direito à acumulação capitalista no espaço urbano.

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SETE ANOS DEPOIS, SECRETÁRIO DE SEGURANÇA-RJ FALA DE SEU FRACASSO EM ‘INTELIGÊNCIA POLICIAL’!

(Leticia Sander – Folha de SP, 19) 1. O secretário Beltrame reconheceu que a polícia é lenta na inteligência, fica sabendo dos protestos quase ao mesmo tempo que todo mundo no Facebook, o que dificulta a investigação sobre a articulação dos grupos. Contou ainda ter dito ao ministro da Justiça, que a polícia do Rio não teria a menor condição de assumir o policiamento das manifestações previstas para o dia do primeiro leilão do pré-sal, na segunda-feira (21). Motivo? A PM está exausta, alegou o secretário, passados mais de cem dias de protestos nas ruas.

2. O reconhecimento de deficiências é, sem dúvida, saudável. Resta saber o que está sendo feito para saná-las. Se o Rio já parece ter virado um dos principais epicentros da indignação nacional, os próximos eventos no calendário indicam que o ano de 2014 pode ficar bem pior.

3. (Ex-Blog) O paradoxal é que Beltrame foi da Polícia Federal para a Secretaria de Segurança-RJ por ser especialista em “inteligência” policial. Quando chegou, disse que essa era a sua prioridade. Como se sabe, as ações de inteligência policial são –de certa forma- o contrário da investigação. A investigação parte do dado, do fato conhecido, do delito, para investigar. A “inteligência” vai atrás do “dado negado” e seu instrumento principal é a infiltração. A PF tem avançado muito nas ações de “inteligência”. Mas aqui no Rio, sete anos depois, pode-se afirmar que na matéria que se dizia especialista e que era prioritária, Beltrame fracassou. Ele mesmo diz isso.