ÍNTEGRA DO DISCURSO DO PRESIDENTE DA CÂMARA DE DEPUTADOS NO WOODROW WILSON INSTITUTE, EM NEW YORK, DIA 15/11/2019!
Primeiramente, agradecer e reforçar a relevância do Brazil Institute. Em tempos tão sombrios, de tantos ruídos e distensões, ver uma organização promover o diálogo e construir pontes é uma alegria. O trabalho do Paulo Sotero à frente do Brazil Institute deve servir de modelo para todos nós. O trabalho do instituto de promover o diálogo e a troca de experiências sobre o Brasil aqui nos Estados Unidos é fundamental para todos nós. Parabéns ao Brazil Institute e ao seu diretor!
Muito boa a noite a todos,
Certamente para mim não é uma noite qualquer; também não é uma noite qualquer para os brasileiros que estão aqui. Hoje, 15 de novembro, é a data que nós comemorarmos o nascimento da República. Não sei se este evento e a data foram atos pensados pelo Wilson Center; o que me importa é tentar entender os sinais que surgem ao longo da nossa trajetória. Receber este prêmio no dia da proclamação da República é um grande sinal. Creio que nada na vida é por acaso; o destino, apesar de incerto, é o resultado dos nossos erros e tentativas, do nosso esforço e das nossas escolhas. Os sinais aparecem a todo tempo e eu sempre busco interpretá-los.
No dia em que comemorarmos o nascimento da nossa República, eu recebo esta homenagem em nome de todos os Parlamentares brasileiros. Sim, de TODOS! Dos que pensam como eu, mas também dos que pensam diferente de mim; dos que votaram em mim para presidente da Câmara, mas também para os que votaram em outros candidatos; para os que me elogiam, mas também para os que me criticam. Aceito e dependo do contraditório!
O homem público tem a obrigação de aceitar outros pontos de vista, de acolher as diferenças. Portanto, meu muito obrigado a todos que pensam diferente de mim, que me criticam e que me mostram diferentes caminhos e soluções. Vocês, certamente, são uma grande influência na minha vida.
Aceitar o diferente é um ato de responsabilidade. Eu acredito que a política é a arte de construir consensos, encontrar saídas, enxergar o fiapo de luz na escuridão, oferecer soluções em meio aos conflitos. A política é uma arte, e aqueles que tentam criminaliza-la não se dão conta que a política tá no cotidiano de todos nós. O exercício de convencer um amigo pelas palavras é política; persuadir e lutar por uma ideia dentro de qualquer instituição é fazer política. Quando convencemos pelas palavras temos a capacidade de criar empatia, e quando criamos empatia estabelecemos laços de confiança.
Empatia e confiança: talvez não existam atributos melhores do que esses para definir o presidente Woodrow Wilson. Eu gosto de ver os sinais que a vida nos manda. 2019 é o ano do centenário do prêmio Nobel da paz que o presidente Woodrow Wilson ganhou. Vejam só como a história muitas vezes teima em se repetir. Wilson lutou contra a praga do nacionalismo que foi a centelha para eclosão da 1 grande guerra e apostou todas as fichas na construção de um mundo multilateral. Wilson ganhou o Nobel por apostar e trabalhar por um mundo onde as divergências se solucionam no diálogo. A semente do que hoje é a ONU nasceu com ele na antiga Liga das Nações; isso sem contar o papel fundamental que ele teve na valorização das mulheres ao lutar pelo voto direito ao voto.
A “paz sem vencedores” de Wilson é uma lição para todos que acreditam nos valores democráticos e universais. Nada mais atual e urgente do que lutarmos por uma “paz sem vencedores” nos dias de hoje.
Estamos testemunhando de novo uma onda nacionalista que faz renascer aquelas fagulhas que sempre nos levaram ao caos. Vemos fronteiras sendo fechadas e famílias sendo separadas por uma disputa de espaço imaginária; vemos a cor da pele, a opção religiosa ou sexual sendo usadas como réguas para classificar as pessoas. Que este centenário do Nobel da paz do presidente Woodrow Wilson inspire, ilumine e una os amantes dos valores universais, aqueles que, diferentemente dos que se refugiam nos preconceitos, se fortalecem nas diferenças.
São esses valores também que unem nossos países. E muito além dos produtos que compõe a nossa balança comercial, acho que o principal produto que importamos dos Estados Unidos é o modelo de democracia liberal. A crença na independência dos poderes; a visão de que os poderes devem se fiscalizar para impedir que um se sobreponha ao outro; a luta federalista de independência dos estados; e o respeito divino à Constituição são, na minha opinião, a maior contribuição deste país para o mundo. Não existe democracia que não seja a democracia liberal. Qualquer outro modelo que não considere as bases da democracia representativa deve receber um outro nome. A democracia não é o regime da maioria, é, sobretudo, o regime que protege as minorias.
Eu desejo, profundamente, que os laços do Brasil e dos Estados Unidos se fortaleçam cada vez mais baseados nos valores que comungamos em conjunto. Nossa balança comercial será mais forte se as democracias forem mais fortes; nosso turismo será mais pujante se nossas instituições forem mais sólidas. Carrego comigo uma frase sublime do John Adams que cai como uma luva nos dias de hoje: “Você nunca saberá quanto custou à minha geração preservar a SUA liberdade. Espero que você faça bom uso disso”. Por obra do destino eu nasci em Santiago, no Chile, porque meu pai estava no exílio. Sou filho de um ex-exilado e aprendi que a única coisa inegociável é a liberdade. Sempre haverá grupos que tentarão inverter o processo civilizatório. Para esse grupo o nosso Congresso tem dado respostas inequívocas: não passarão.
Eu sempre digo que uma nação só é forte quando as suas instituições são fortes. Temos trabalhado muito para manter as nossas liberdades, mas também para garantir a liberdade para milhões de brasileiros que ainda vivem na prisioneiros da pobreza.
Seremos mais livres e fortes quando milhões de brasileiros puderem caminhar com as próprias pernas. Fizemos a mais importante reforma da previdência da história; encaminhamos a mais completa reforma tributária; tiramos do papel a reforma administrativa para modernizar o Estado; e criamos um grupo especial para acelerar os projetos de lei que visam combater a pobreza. Nunca produzimos tanto em tão pouco tempo.
Em fevereiro deste ano eu completei 20 anos como deputado. Convivo com lideranças que estão na política há muito mais tempo. Todos são unânimes em dizer que este é o melhor momento do Parlamento brasileiros em décadas. Somos a voz da razão; somos o distensor dos conflitos; somos o ponto de equilíbrio tão necessário para encontrar as saídas. Eu tenho um enorme orgulho de estar à frente da Câmara neste período tão conturbado, mas tão gratificante. Eu me realizo na política; me realizo nos amigos e amigas que tenho no Congresso; estamos mais fortes, mais independentes e mais conscientes do nosso papel histórico.
Vou terminar lembrando o que disse no início: eu gosto de interpretar os sinais. A história não é uma linha reta. Hoje, vivemos um ciclo que guarda semelhantes com o período em que o presidente Woodrow Wilson viveu. Portanto, se há alguma vantagem em estar vivo hoje é lembrar das consequências do nacionalismo, do preconceito, da xenofobia e do desprezo pela ciência. A história se repete em ciclos; depende agora de todos nós que estamos aqui fazer com este ciclo seja lembrado no futuro pelos valores sagrados da democracia liberal que nos unem.
Os dias são duros, as batalhas são intensas, às vezes pensamos que não há mais alternativas, às vezes desanimamos. Mas eu não tenho dúvidas de que o nosso esforço está sendo recompensador, e este prêmio é uma prova disso. E termino com uma frase emblemática do presidente Woodrow Wilson. Ele disse que “crescemos com os sonhos. Todos os grandes homens são sonhadores. Eles veem as coisas através da névoa suave de um dia de primavera ou através do fogo de uma longa noite de inverno. Cuide dos sonhos durante os dias ruins até que esses sonhos nos tragam a luz do sol que sempre vêm para aqueles que esperam que seus sonhos se tornem realidade”.
Cuidemos dos nossos sonhos de viver em um país mais livre, mais justo e mais humano.