19 de março de 2018

A DISPERSÃO DO CRIME ORGANIZADO NO RIO E SUAS REPERCUSSÕES!

Ex-Blog entrevista Delegado YY.

1. Ex-Blog: Comentários seus têm insistido que o crime organizado no Rio -tráfico e milícia- sofreu uma importante mudança nos últimos tempos. Que mudança importante foi essa?
YY: As chamadas facções (CV, ADA, 3C…) sempre tiveram um comando unificado. Isso mudou.

2. Ex-Blog: Detalhe mais essa mudança nesses comandos unificados.
YY: Basta lembrar todo o noticiário nestes últimos anos, faziam sempre referência aos chefes nos presídios e que partia deles os comandos para suas facções. Os delinquentes das facções operavam espalhados, mas unificados.

3. Ex-Blog: Detalhe mais.
YY: Os ditos chefes dos morros eram identificados pelas facções que comandavam. E por cima deles chefes gerais, em geral nos presídios, com autoridade e poder sobre a atuação e a vida de suas gangues.

4. Ex-Blog: Assim mostravam os noticiários.
YY: Mais do que isso. Por isso a secretaria de segurança do Rio de Janeiro exigia -e conseguiu- que os chefes das facções fossem enviados para presídios de segurança máxima, longe do Rio. E assim foi feito.

5. Ex-Blog: Isso não foi positivo?
YY: Claro que sim. A ação das polícias em relação à entrada das drogas pelas fronteiras e pelos corredores internos em direção aos centros de consumo foi desarticulando a unidade dos fornecedores.

6. Ex-Blog: E o espalhamento dos corredores de exportação de cocaína desde o Brasil?
YY- Realmente. O deslocamento dos corredores de exportação tradicionais (aeroportos e portos internacionais) em direção aos mercados europeus, com entrada preferencial pela Península Ibérica, passou para a África Ocidental e levou a criação de corredores através do Nordeste, usando embarcações e aviões de pequeno porte, até a costa africana. A criminalidade no Nordeste cresceu exponencialmente em relação ao Sudeste.

7. Ex-Blog: Voltemos à questão da desunificação das facções.
YY: Esses vetores, o afastamento dos chefes para os presídios de segurança máxima, a repressão aos fornecimentos externos, o deslocamento dos corredores de exportação, a queda do poder de compra dos consumidores, e a crise profunda do Rio de Janeiro (econômica, administrativa e moral) terminaram dispersando as facções.

8. Ex-Blog: Entre elas ou dentro delas?
YY: As duas coisas. Algo que raramente acontecia passou a ser rotina. Ou seja, a transferência dos traficantes de uma facção para outra. A Rocinha é um exemplo. Dessa forma, mesmo dentro da Rocinha passaram a operar várias subfacções, mesmo que o noticiário, para identificá-las, tenha mantido as denominações anteriores.

9. Ex-Blog: Isso afeta a relação com a polícia?
YY: Certamente. E de duas formas. A primeira é a necessidade de reestruturação das polícias para combater essa dispersão das facções. Vide a Colômbia, com o desmonte dos cartéis. E agregue-se isso à questão das milícias que ao crescerem e ocuparem novos territórios, deixaram de ter o foco de enfrentamento ao tráfico de drogas e concentraram-se na extorsão. Ultimamente, em alguns casos, atuam em conjunto com o tráfico.

10. Ex-Blog: E a presença do PCC no Rio?
YY: Por enquanto há um certo exagero. Mas é natural e esperado que, com a dispersão das fações no Rio e o PCC mantendo sua unidade, isso viesse a ocorrer.

11. Ex-Blog: Então a dispersão das facções é um fato novo?
YY: Mais do que isso, explica o crescimento dos crimes no Rio, a pulverização e a dispersão espacial e até horária dos mesmos, ditando sobremaneira a ação policial. Asfalto e favela, como espaços de ação dos delinquentes, foram agregados.

12. Ex-Blog: Então suas afirmações justificam a intervenção do Exército no combate ao crime no Rio?
YY: Mais do que isso. A intervenção do Exército passou a ser um fator fundamental para o combate ao crime e ao crime menos organizado, ou se preferir, desorganizado, no Rio. A intervenção do Exército no combate ao crime no Rio passou a ser fator decisivo e isso se verá progressivamente e num tempo menor do que se imagina.