12 PERGUNTAS PARA CESAR MAIA!
(Época) Ex-prefeito do Rio por três gestões, vereador reeleito, ele é, hoje, o “pai do Rodrigo Maia” (presidente da Câmara dos Deputados). A ÉPOCA, defende a formação do “centro radical” liderado por seu filho e vê as ações da PGR contra o primogênito como políticas.
1. O DEM voltou a comandar o Rio e ganhou novas prefeituras em outras regiões do país. Como o senhor, que por 12 anos foi prefeito carioca, avalia esse crescimento da legenda?
A ascensão do DEM sublinha a importância de nossas lideranças nacionais com forte base estadual. Rodrigo (Maia), ACM Neto, (Ronaldo) Caiado, são exemplos. Com isso veio a impulsão geral em torno do partido, que despontou como a principal força de centro nas eleições municipais.
2. Ter quadros tão díspares como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o ministro Onyx Lorenzoni de um lado e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o prefeito de Salvador, ACM Neto, do outro não pode atrapalhar a construção de um projeto próprio para o DEM em 2022?
Cabe ao presidente do DEM, ACM Neto, dar as diretrizes de unidade.
3. Como o senhor vê a atuação de Rodrigo Maia no Legislativo?
Tenho repetido isso há muitos anos. Rodrigo tem perfil diferente do meu. Ele tem uma extraordinária capacidade de ouvir e assim articular, e, com isso, conquistou a confiança e a liderança entre seus pares no Congresso e nos estados.
4. O DEM tem espaço para ter protagonismo em 2022?
Eu não tenho dúvida. Certamente cumprirá uma função decisiva na campanha de 2022.
5. Rodrigo Maia pode se tornar um líder político nacional?
Acredito que já o seja. Basta acompanhar sua mobilidade nacional pelos estados com os governadores, deputados e senadores.
6. É a hora de ele sair da “sombra” e disputar quadro executivo em âmbito nacional?
Rodrigo está sob as luzes pela posição que ocupa e por seu talento. O processo político superou as relações anteriores. Já estamos assumindo o centro radical.
7. O senhor governou o Rio de Janeiro por 12 anos valendo-se de um estilo mais agressivo. Rodrigo Maia é mais discreto. Como o senhor vê essa diferença?
Com a ascensão do Rodrigo na Câmara dos Deputados, fiz a opção por opinar muito pouco nas questões nacionais. Meu estilo não o ajudaria em nada e poderia ser polemizado, prejudicando o desempenho dele. Conversamos quando ele passa aqui por casa, mas pontualmente. E uma vez ou outra envio um Twitter, quase sempre sobre política internacional, que aliás é minha função no DEM.
8. Ele evoluiu como político?
Lembro que em suas primeiras campanhas ele era percebido como muito tímido. Com o tempo, pôde-se ver que na verdade esse estilo, de ouvir muito, e com muita atenção, a seus interlocutores, em todos os níveis, era seu perfil, que se aprofundou com o tempo.
9. Rodrigo Maia é um dos alvos preferenciais dos bolsonaristas nas redes. Como o senhor observa essas ameaças e ataques?
Ele fez um mestrado quando eu era prefeito e as ameaças eram constantes pela presença do crime organizado aqui no Rio. As ameaças via guerrilha digital só têm função de tentar produzir desgaste. Essa eleição para presidência da Câmara dos Deputados mostra que não surtiram efeito. Aqueles mudaram de time com outros políticos. Ele permanece onde sempre esteve.
10. O senhor crê que nesta eleição o eleitor desacreditou de uma nova política?
A eleição de 2018 foi um ponto fora da curva. Agora a curva voltou a seu leito. Aprendi com a Democracia Cristã (DC), quando estive exilado no Chile, que o centro como meio-termo entre direita e esquerda apenas tem efeito amortecedor. O centro que setores da DC na época buscavam era uma instância em outro plano, fora da direita e da esquerda. Anos atrás, Anthony Giddens chamou de centro radical, trazendo novos temas como Meio Ambiente, a questão urbana, a democracia sem adjetivos, a política de gêneros etc. Esse é o centro que ele (Rodrigo Maia) busca. O centro radical conforme Giddens. Se chegar em 2022 e ele estiver liderando uma corrente expressiva, será natural a ascensão. Sobre nova política, o tempo dirá. Joe Biden (presidente eleito dos Estados Unidos) entrou nas primárias como outsider e os fatos o colocaram no trono. No parlamentarismo as projeções são mais fáceis.
11. O que esperar da Câmara dos Deputados sem o comando de Rodrigo Maia. Há algo a temer?
Temer não. A presidência da Câmara dos Deputados pode ter vários tamanhos. Dependendo do tamanho, a Câmara cresce e passa a ser um poder efetivo num círculo com o Executivo, o Judiciário e a Federação. Ou será apenas intermediária de clientelas olhando apenas para a reeleição dos parlamentares. Como disse, adotei um estilo de não opinar nos conflitos nacionais. Isso cabe ao Rodrigo. Assim como o futuro que terá ou não nas eleições majoritárias de 2022.
12. O presidente da Câmara voltou a ser alvo de uma investigação que havia sido arquivada na gestão passada da Procuradoria-Geral da República (PGR). A reabertura é interpretada como uma retaliação política a ele?
Nada de novo. É o mesmo processo que já foi arquivado pela ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge. (Esse tipo de ação) faz parte das buscas de desgastes que cercam a eleição para presidente da Câmara.