IMPEACHMENT DE DILMA: “DIAGNÓSTICO E CURA”!
Maquiavel: O Príncipe. Capítulo III – Trechos.
1. “Ocorre aqui como no caso do tuberculoso, segundo os médicos: no princípio é fácil a cura e difícil o diagnóstico, mas com o decorrer do tempo, se a enfermidade não foi conhecida nem tratada, torna-se fácil o diagnóstico e difícil a cura. Assim também ocorre nos assuntos do Estado porque, conhecendo com antecedência os males que o atingem (o que não é dado senão a um homem prudente), a cura é rápida; mas quando, por não se os ter conhecido logo, vêm eles a crescer de modo a se tornarem do conhecimento de todos, não mais existe remédio.”
2. “Nem em momento algum lhes agradou aquilo que todos os dias está nos lábios dos entendidos de nosso tempo, o desejo de gozar do benefício da contemporização, mas sim apenas aquilo que resultava de sua própria virtude e prudência: na verdade o tempo lança à frente todas as coisas e pode transformar o bem em mal e o mal em bem.”
3. “É coisa muito natural e comum o desejo de conquistar e, sempre, quando os homens podem fazê-lo, serão louvados ou, pelo menos, não serão censurados; mas quando não têm possibilidade e querem fazê-lo de qualquer maneira, aqui está o erro e, consequentemente, a censura.”
4. “Disso se extrai uma regra geral que nunca ou raramente falha: quem é causa do poderio de alguém arruina-se, por que esse poder resulta ou da astúcia ou da força e ambas são suspeitas para aquele que se tornou poderoso.”
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ENTREVISTA DE DANIEL LEVITIN, NEUROCIENTISTA E PROFESSOR DA MCGILL UNIVERSITY, EM MONTREAL!
(Aliás – Estado de SP, 13) Daniel Levitin oferece recursos para impedir que o leitor seja soterrado pela avalanche diária de informação. A Mente Organizada combina a apresentação das descobertas recentes em estudos sobre o cérebro e sugere rotinas para assumir o controle do ecossistema de informação, e não ser controlado por ele.
1. (LG-ESP) Por que falamos em sobrecarga de informações? (DL) Para os cientistas, a sobrecarga é a diferença entre a quantidade de informação com que somos bombardeados e a capacidade do nosso cérebro de lidar com ela. / (LG-ESP) O que é a obsolescência evolucionária, que o senhor aponta como parte do obstáculo para lidar com o excesso de informação? (DL) Todos os organismos vivos estão constantemente se adaptando ao meio ambiente. A seleção natural exerce influência sobre essa adaptação. Por exemplo, nós nos adaptamos à erosão da camada de ozônio e pessoas que adquirirem maior resistência aos raios ultravioleta transmitirão aos descendentes o gene de sobrevivência a eles. Mas é um longo e lento processo. Nosso cérebro evoluiu para lidar com um ambiente que existia há 10, 20 mil anos. O genoma humano precisa de tempo para se adaptar. Para você ter uma ideia, em 30 anos quintuplicou a quantidade de informação que recebemos a cada dia. Pense nisso como o equivalente a ler 175 jornais de ponta a ponta diariamente. Outro número extraordinário: em 1976, nos Estados Unidos, havia cerca de 9 mil produtos únicos à venda num supermercado. Hoje, há cerca de 40 mil. O consumidor americano, que compra uma média de 150 produtos, tem que navegar entre uma quantidade muito maior de escolhas.
2. (LG-ESP) Embora a evolução do cérebro esteja “atrasada”, há duas gerações essa obsolescência era muito menos sentida, certo? (DL) Vamos considerar um aprendizado que foi necessário para nossos avós. Eles tiveram que aprender a usar o telefone uma ou duas vezes – tiveram que fazer chamadas com ajuda de telefonistas e depois aprenderam a discar. Hoje, os smartphones não param de mudar. Você troca de modelo e tem que aprender inúmeras funções, que daqui a poucos anos serão trocadas. / (LG/ESP) Há um site chamado “Deixe eu googlar isto pra você” inspirado na exasperação que muitos sentem quando alguém faz uma pergunta que pode ser respondida online. Qual a importância de ter tanta informação disponível em poucos segundos? (DL) Quando eu cursava a Universidade Stanford, na Califórnia, gostava de estudar dentro da enorme biblioteca principal. Havia ali respostas para tudo o que eu queria saber. Mesmo se eu me distraísse e quisesse conferir algo que não tinha ligação direta com o trabalho em questão, era preciso levantar, localizar um livro ou publicação num sistema de classificação. Hoje, a nossa atenção é desviada o tempo todo para novas fontes e isso afeta a possibilidade de recuperar o foco inicial. Há enorme variação na nossa capacidade de virar a chave da atenção. Mulheres e jovens tendem a ser mais rápidos do que homens e idosos. Mas varia muito. Se me distraio de algo, demoro uns cinco minutos para retomar a concentração.
3. (LG/ESP) A palavra multitarefas, executar várias tarefas ao mesmo tempo, é indissociável da rotina do século 21. Mas o senhor diz que multitarefas não passam de ficção. (DL) Não existem multitarefas, é um mito. O cérebro simplesmente não comporta isso. A pessoa pensa que está lidando com várias coisas ao mesmo tempo quando, de fato, o cérebro está experimentando rápidas mudanças de foco que mal percebemos, o que resulta numa atenção fragmentada a várias coisas e nenhuma atenção sólida a uma que seja. Recentemente ficou provado que conseguimos prestar atenção a, no máximo, três ou quatro coisas de uma vez. O cérebro é eficaz em provocar autoilusão. Achamos que estamos no controle das coisas. Mas executar várias tarefas ao mesmo tempo libera um hormônio de estresse, o cortisol. O cortisol tem um papel evolucionário, mas também provoca ansiedade, nervosismo e afeta a clareza de pensamento. Comparo o ato de fazer várias tarefas ao mesmo tempo com uma espécie de embriaguez. Há trabalhos que exigem essa capacidade, como tradutor simultâneo ou controlador de tráfego aéreo. E não é à toa que, nessas funções, as pessoas são obrigadas a fazer várias pausas de descanso para recuperar a capacidade de se concentrar.
4. (LG-ESP) No entanto, há uma noção de que as pessoas bem-sucedidas, e o senhor entrevistou mais de 100 para escrever o livro, são as que têm o poder de acumular mais tarefas do que os outros. (DL) Exato, mas a história e a ciência de laboratório nos provam o contrário. Estudos mostram que o trabalho de quem mantém o foco numa tarefa é mais criativo. Isso vale tanto para grandes empresários, atletas e inovadores como para artistas. Valia para Da Vinci e Michelangelo. Olhe para o alto na Capela Sistina, considere grandes conquistas como o cubismo, a 5ª Sinfonia de Beethoven, a obra de William Shakespeare – tudo é resultado de atenção sustentada ao longo do tempo. / (LG-ESP) Por que o senhor diz que as crianças devem aprender na escola, já aos 10 anos, a enfrentar a sobrecarga de informação? (DL) Qualquer criança alfabetizada sabe que pode encontrar uma informação em segundos. Mas a maior parte do que está online é desinformação. Ficções mascaradas de fatos. Até estudantes universitários se deixam confundir. Recolhem informações sem perguntar quem está por trás. Como saber que a fonte é confiável? Na escola, os professores devem ensinar, para começo de conversa, que websites não são iguais. Devem incutir um questionamento crítico na pesquisa. À medida que os alunos crescem, vão adquirindo mais nuances para se informar. Por exemplo, se a criança quer um brinquedo, pode-se ensinar a ela que o website do fabricante não é a fonte mais confiável sobre a segurança do brinquedo. Antes, no ecossistema analógico, tínhamos curadores de informação, era mais fácil distinguir a credibilidade de fontes.
5. (LG/ESP) O senhor diz que as pessoas mais produtivas são as que melhor estabelecem prioridades. (DL) A maioria de nós chega ao trabalho hoje em dia e é bombardeada com o “por fazer”. É como entrar cambaleando num ambiente em que há muitas exigências e começamos a atacar o que passa pela frente. Não fazemos um esforço consciente e deliberado de evitar que o ambiente em volta nos domine. Isso aumenta o cansaço e diminui a produtividade. Todas as pessoas altamente bem-sucedidas com quem converso têm em comum o fato de que elas anotam o que há por fazer e já começam a trabalhar cientes de prioridades. / (LG-ESP) O senhor diz que uma ferramenta útil para priorizar são os chamados exercícios de limpeza da mente. (DL) Sim. O David Allen, um guru da produtividade e autor de A Arte de Fazer Acontecer, aponta para a importância de externalizar a informação. Recomenda anotar tudo o que está se passando na sua cabeça, coisas que têm a ver com a tarefa em questão e preocupações que podem distrair a pessoa. É um processo neurológico, porque o cérebro teme esquecer o que é importante. Quando o cérebro sabe que a informação foi arquivada externamente, nas anotações, e o efeito é de nos acalmar, é libertador. Retira o entulho mental que prejudica a atenção.
6. (LG-ESP) A sobrecarga de informação se estende ao excesso de objetos. Por que o senhor defende uma gaveta de bagunça? (DL) Um profissional precisa saber exatamente onde estão seus instrumentos. Pode ser um cirurgião, um dentista, um bombeiro. Este tipo de organização nos libera para pensar e tomar decisões. Mas excesso de organização é contraprodutivo, uma perda de tempo. O importante é deixar visíveis os objetos que utilizamos regularmente. Quantas vezes você encontra um parafuso, uma peça e não se lembra de onde vem? Jogue na gaveta de bagunça, a que tem objetos de utilidades diferentes. Isso é uma forma de fazer economia cognitiva, porque não é preciso classificar tudo. (LG-ESP) O senhor aponta a correlação entre eliminar o excesso de informação e de pertences e a felicidade. (DL) Se quiser destilar tudo o que se conhece sobre pessoas que se consideram felizes, a frase é a seguinte: elas se satisfazem com o que têm. E são as que querem conquistar algo, não receber prêmios e elogios. O que é diferente de não ter ambição pessoal ou criativa. O empresário Warren Buffett, o terceiro homem mais rico do mundo, com uma fortuna de mais de US$ 70 bilhões, mora na mesma casa há mais de cinco décadas. Ele inventou o neologismo “satisficing”, sobre as coisas que bastam. Não perde tempo com o que não lhe interessa e tem uma agenda diária de trabalho quase vazia, de poucas reuniões, que o deixa livre para ser produtivo. Cientistas da Universidade da Califórnia liderados pelo brasileiro Alysson Muotri criaram “minicérebros” para simular uma doença neurológica rara e testar drogas para curá-la. Os neurônios, feitos com células cutâneas, se organizam de forma similar à do cérebro humano.