4 QUESTÕES SOBRE O FUTURO DA SÍRIA!
(O Globo, 16) > Quem vai controlar o Nordeste da Síria?
Há pouco mais de uma semana, uma fatia triangular no Nordeste da Síria (cerca de um terço do país) era controlada por uma milícia síria liderada por curdos e apoiada pelos EUA. As Forças Democráticas Sírias (FDS) foram a principal força terrestre responsável pela derrota do Estado Islâmico no país. Mas, em 6 de outubro, Donald Trump deu à Turquia luz verde para cruzar a fronteira e lançar uma ofensiva. A liderança da milícia tem ligações com um grupo curdo que luta na Turquia há anos e que Ancara considera uma organização terrorista. O governo turco quer estabelecer uma zona de segurança expulsando as FDS em uma faixa que se estende até 30 quilômetros para o interior da Síria ao longo da fronteira. Sem o apoio dos antigos aliados, a milícia buscou a ajuda do governo sírio, inimigo tanto da Turquia quando dos EUA. No fim de semana, os curdos anunciaram ter chegado a um acordo para que forças sírias reentrassem em áreas que haviam cedido às forças curdas há anos à medida que uma rebelião varria o país. Ancara utiliza combatentes opositores sírios, a maioria árabes e turcos, como força terrestre. Isso tem o potencial de alimentar um conflito étnico. Integrante da Otan, a Turquia está lutando por território com um governo sírio apoiado pela Rússia. Isto também eleva a possibilidade de um conflito entre Otan e Rússia.
> Como isso vai terminar para os curdos?
Sem o apoio dos EUA, os curdos enfrentam um enorme golpe na esperança de manter algum grau de autonomia. E ainda há questões sobre qual é exatamente o acordo fechado com Damasco. As FDS sugeriram que ele envolve permitir a entrada das forças sírias, ou impedir os ataques da Turquia. Dizem que manterão a estrutura militar e o controle dos conselhos locais de governo. Mas o governo sírio diz que vai exigir a dissolução das FDS e a integração dos combatentes em formações lideradas por russos. Damasco tem um histórico de repressão aos curdos, e o governo de Assad não é conhecido por negociar acordos. O clima é de medo. E abre caminho para o ressurgimento da oposição armada.
> Como os civis serão afetados?
Cerca de 100 mil civis já fugiram da zona de fronteira. As rotas para a Turquia estão bloqueadas. Alguns tentam fugir para as regiões curdas no Iraque, enquanto outros rumam para territórios das FDS mais ao sul. Mas ambas as regiões estão exauridas e destruídas por anos de guerra contra o EI, e têm poucos recursos a oferecer aos deslocados. Para piorar a situação, grupos humanitários estão se retirando do Nordeste da Síria. Baixas civis têm sido relatadas, algumas atribuídas aos bombardeios turcos. Civis também têm sido mortos em cidades turcas por bombardeios das FDS. A Turquia tem dito que quer enviar muitos dos 3,6 milhões de refugiados sírios que estão no país para o outro lado da fronteira, na zona de segurança que está tentando criar na Síria, numa ação que violaria o direito internacional.
> O Estado Islâmico ressurgirá?
O caos abriu a porta para duas possíveis ameaças do EI: a fuga de combatentes detidos e a reativação de células militantes adormecidas. Milhares de suspeitos estão em centros de detenção no território das FDS. Entre eles, ao menos 2 mil estrangeiros, cujos países se recusaram a recebê-los de volta.
Há relatos de fugas, e as forças americanas foram incapazes de remover dezenas de prisioneiros de alto valor antes do início das hostilidades. Há também o temor de que células adormecidas do EI se reativem. O grupo já reivindicou responsabilidade por um ataque suicida em Qamishli.