2014: POR QUE AS PESQUISAS ERRARAM TANTO? EM DEFESA DO IBOPE E DO DATAFOLHA!
1. Este Ex-Blog, em base a teoria política de pesquisas e opinião pública, vem aqui defender o Ibope e o Datafolha. Vamos usar dois autores. Primeiro, Paul Lazersfeld, o fundador das pesquisas de opinião política na Universidade de Columbia, no final dos anos 20 e início dos anos 30. Os críticos da montagem de um sistema de pesquisas como estava sendo feito, que refletisse a opinião pública, afirmavam que o eleitor, sendo um em milhões, achava que era inútil votar ou opinar. Dessa forma, as amostras usadas nas pesquisas não conseguiriam identificar os vetores de opinião pública.
2. Lazarsfeld trabalhou com o Jogo de Coordenação. Ou seja, as pessoas e seus contatos, em casa, na família, no trabalho, nas ruas, nas escolas, nos clubes, etc., vão trocando opiniões e construindo a ideia que não estão sós, que fazem parte de um grupo de pessoas que pensam como eles e que o alcance de sua intenção de voto é muito maior que sua opinião pessoal. Com isso, a amostragem aparentemente pequena -não apenas pelos fatores censitários gênero, idade, instrução, renda, como de localização…-, impulsionada pelo Jogo de Coordenação, tem um alcance muito maior que os críticos imaginavam. E precisão.
3. Gabriel Tarde, francês, pai da microssociologia, no final do século XIX, em seu clássico “As Leis da Imitação” (não traduzido para o português), dizia que a opinião pública é formada pela troca de opiniões entre as pessoas e outras pessoas cujas opiniões respeitam. A partir daí se formam fluxos de opinamento. Quando as informações difundidas são amplas, como pelos meios de comunicação, aquela troca de opiniões se dá milhares/milhões de vezes. São esses fluxos que formam a opinião pública.
4. Gabriel Tarde fala de três atores nesse processo: os que iniciam processos de opinamento (“loucos”), os que repassam os fluxos de opinamento (“sonâmbulos”) e os que não estão nem aí e não dão importância a esses fluxos e não repassam (“idiotas”). Quanto maior a proporção desses últimos, menor a velocidade na formação de opinião pública e mais difícil identificá-la.
5. Tanto o Jogo de Coordenação quanto as Leis da Imitação explicam que quando certo assunto não desperta interesse nas pessoas, que elas não conversam, não interagem a respeito, e quanto maior a proporção dos que não repassam fluxos de opinamento, maior dificuldade das pesquisas terem precisão na proporção dos vetores de opinião pública.
6. Foi o que ocorreu nesta eleição. As ruas frias, as ruas neutras sem polêmica, a rejeição aos políticos, alta proporção dos que não se interessam pela eleição (vide Ibope também no segundo turno), processo esse intensificado no segundo turno, explicam por que as oscilações das pesquisas tendem a ser, e foram, mais altas. E mais. As pesquisas, durante a campanha, com baixa taxa de interesse, tendem a ter resultados diferentes quando a proximidade da eleição aumenta o interesse, ou mesmo na urna, quando o eleitor está lá e terá que votar.
7. Para os que veem a TV e os programas ou os comerciais eleitorais, ouvem as rádios ou leem os jornais, ou estão nas redes sociais, parece que a campanha eleitoral está quente. Ilusão de ótica, de audição e de leitura. A campanha eleitoral estava, está e estará fria, aumentando consideravelmente os riscos de oscilações. Lembre-se: isso não interfere na margem de erro de uma pesquisa específica divulgada. Mas interfere muito na probabilidade de outra pesquisa na frente dizer coisa muito diferente.
8. Com isso, as séries continuadas de pesquisas que são um elemento corretivo das margens de erro perdem também sua efetividade. Aos que disputam as eleições, nesse sentido, sempre há esperança. Comparando as pesquisas –mesmo as últimas às vésperas das urnas do primeiro turno, com o resultado da eleição presidencial- se poderia exemplificar dizendo que é provável que estados como Rio Grande do Sul, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, sejam exemplos maiores da baixa temperatura eleitoral e dos riscos de oscilação das pesquisas e das urnas em 2014.