“IMPEACHMENT NOW”! UM EQUÍVOCO GRAVE DA OPOSIÇÃO!
1. Políticos e analistas –após a divulgação da pesquisa do Datafolha relativa à primeira semana de fevereiro de2015- vêm lendo errada e parcialmente os dados divulgados. Talvez tenham lido apenas o que a imprensa divulga, pois esta não pode detalhar dados que estão compreendidos em 243 páginas multiplicadas pelos cruzamentos. Alguns dizem que processos de impeachment vêm no bojo da curva de desgaste dos governos. Pode ser, mas uma coisa é opinião passiva e outra opinião ativa e mobilização. Na Espanha e Grécia a oposição de esquerda ativa não quis e não quer derrubar governos: quer desgastá-los e ganhar as eleições.
2. Além disso, há que lembrar que a avaliação de governo –muito negativa nessa pesquisa- não necessariamente corresponde à avaliação da imagem pessoal do governante. Se a avaliação do governo Dilma e os vetores econômicos são realmente tão precários, cabe atacá-los. A mobilização que pretende a oposição virá –a partir desse momento- agitando esses temas: um governo que não funciona, expectativas de inflação, desemprego, economia e até a questão social que caiu bastante.
3. Se é isso que as pessoas sentem, mobilizá-las é tratar destas questões. Manter a crítica acesa nas palavras e nas ações em defesa da população prejudicada em seus diversos setores. Se essa mobilização atingir os níveis –sustentáveis- de 2013, aí sim se cria um quadro para adjetivar com impeachment.
4. Os casos de impeachment se aplicam à desonestidade comprovada e ao atropelamento da ordem jurídica e constitucional. Não é o caso nesse momento, nem no discurso da oposição. Há outra razão –difusa, mas efetiva em vários casos- que é a incapacidade demonstrada de governar. É o caso de “interdição” usado em nível pessoal por pedido, por familiares.
5. Um pedido de impeachment por incapacidade de governar, ou seja, uma interdição, tem dois aspectos, ambos políticos. Assume o vice-presidente Michel Temer. É isso que quer a oposição? Ou melhor –apontando nessa direção, a opinião pública entenderá que é este o caminho? Como serão as reações? Faixas importantes da opinião pública (especialmente aquelas mais à esquerda e ao centro), sejam políticos, corporações ou intelectuais ditos progressistas, se oporão, deslegitimando a decisão?
6. Finalmente a questão das questões: como está a imagem de Dilma hoje? Vejamos os pontos de imagem de Dilma nessa pesquisa Datafolha. 46% dizem que Dilma é decidida. Entre os mais pobres e de menor nível de instrução, esse número sobe para 50% e 52%. No Nordeste para 52% e no Norte para 51%. / 66% acham Dilma muito inteligente. 35% a acham sincera. Mas entre os mais pobres e de menor nível de instrução, são 40% e 45%. No Nordeste 43% e no Norte 49%. / 39% dizem que Dilma é honesta. Mas entre os mais pobres são 44% e entre os com menor nível de instrução são 48%.
7. Antecipar açodadamente a agitação pelo impeachment de Dilma como palavra de ordem é um equívoco grave, pois nesse momento só fará dar unidade e adensar a opinião daqueles que –ainda- têm uma imagem positiva dela. A ilustre opinião dos moradores de Vila Nova Conceição (SP), Lagoa (RJ) e Belvedere (BH)…, ainda não contaminaram a opinião da maioria da população quanto à imagem de Dilma. Prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Açodamento leva ao psiquiatra, por síndrome de ansiedade.
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ENTREVISTA COM DEPUTADO RODRIGO MAIA, PRESIDENTE DA COMISSÃO ESPECIAL DE REFORMA POLÍTICA!
(Marcelo Moraes – blog – Estado de SP, 11) Eleito na noite de terça-feira para comandar a comissão especial da reforma política na Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) acredita que exista clima dentro do Congresso para mudar duas regras centrais que hoje existem no jogo eleitoral. Uma delas seria a adoção do sistema de eleição de deputados federais, estaduais e até vereadores pelo chamado “distritão”. A segunda mudança profunda é a proposta de acabar com a reeleição para cargos executivos, com aumento do período de mandato de quatro para cinco anos. Em entrevista ao blog, Maia admitiu que sua escolha para a função, mesmo sendo de parlamentar de oposição, é resultado das fortes falhas de articulação política do governo. A seguir, os principais trechos da entrevista.
1. O governo errou ao permitir que a oposição controlasse a Presidência da Comissão? Rodrigo Maia: “O erro do governo foi não ter feito a radiografia correta da Câmara durante a eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a Presidência da Casa. O lançamento de um candidato do PT para concorrer com Cunha levou os petistas ao isolamento e nós do DEM apoiamos Cunha e integramos oficialmente o bloco partidário que apoiou sua chapa. Como esse bloco é majoritário, tem direito a indicar o presidente da comissão da reforma política e seu relator. Por isso, o DEM ficou com o comando da comissão. Foi mais um grande erro da articulação política do governo”.
2. O PT defende uma proposta de reforma política que inclui votação em lista e financiamento público de campanha. Seu bloco de apoio defende o contrário. Qual proposta poderá passar? Rodrigo Maia: “Não existe a menor possibilidade de a proposta do PT ser aprovada. Queremos fazer uma reforma política que contemple os interesses da sociedade. E nenhuma dessas duas ideias tem eco na sociedade, especialmente a do financiamento público”.
3. Quais propostas o senhor avalia que poderão ser aprovadas pelo Congresso? Rodrigo Maia: “O sistema de votação conhecido como “distritão” já tinha grande apelo dentro da Câmara e agora cresceu muito entre os formadores de opinião. Acho muito provável que seja aprovado porque é uma regra mais clara e que toda a sociedade entende e se sente contemplada. Também acho que o debate sobre o fim da reeleição para cargos executivos também terá muito apoio, especialmente com a alteração do prazo de mandato, elevando de quatro para cinco anos”.
4. Durante o governo FHC, foram as forças que hoje integram a oposição que apresentaram a emenda. O que mudou agora? Rodrigo Maia: “Depois de todos esses anos, já vimos que o candidato que se elege acaba se preocupando muito mais em aproveitar o primeiro mandato para garantir o segundo. E, num país pobre como o Brasil, o uso da máquina pública desequilibra o jogo”.
5. Com tantas denúncias de corrupção e uso de caixa dois envolvendo campanhas eleitorais e partidos não seria importante aprovar algo nessa área na reforma? Rodrigo Maia: “Poderemos discutir algo que estabeleça restrições às doações de empresas para candidatos. Algo do tipo como vetar doações de empresas que prestam serviços ao governo ou que recebem algum tipo de incentivo fiscal. Mas essa é uma discussão que pode ser ampliada”.
6. No PMDB, existe a ideia de reduzir o tempo de campanha eleitoral no rádio e televisão. Algo assim pode ser discutido? Rodrigo Maia: “Não sei se haverá consenso. Mas uma regra que poderá prosperar envolve o uso da televisão. Hoje, o principal gasto das campanhas é com o gasto da produção dos programas de televisão. Podemos restringir o uso da televisão apenas para que o candidato fale no estúdio, sem externas ou recursos gráficos. O cara vai lá e defende suas propostas. Acabam as super produções e a dependência de doações também caem”.
7. Para ser aprovada, a reforma política precisará de três quintos de todos os votos em dois turnos na Câmara e no Senado. Com essa necessidade elevada de votos, será possível aprovar alguma coisa? Rodrigo Maia: “A proposta será aprovada se não se transformar num projeto que inclua tudo. Precisamos nos concentrar nas convergências. Se botarem tudo, não sai. Precisamos nos ater, no máximo, em quatro ou cinco pontos importantes e consensuais”.
8. Quando a reforma política entraria em vigor? Rodrigo Maia: “A ideia é que já possa valer para as eleições municipais de 2016. Vamos tentar acelerar a discussão e votação”.