OS FOCOS DA MÍDIA NAS DELAÇÕES PREMIADAS: ITÁLIA E BRASIL!
1. Há 200 anos –dos panfletos às redes sociais, passando pelos jornais, rádios e televisão- que as notícias sobre a política são muito mais fortes, produzem muito mais impacto e multiplicam muito mais a opinião pública quando são negativas. No limite, as notícias sobre a corrupção na política.
2. Aqui é quando a audiência das notícias políticas ultrapassa –hoje- até a das novelas e esportes. A cobertura da corrupção na política passa ao campo do entretenimento, concorrendo com as demais na audiência. Como lembra Dick Morris (publicitário de Clinton na reeleição) no livro “O Novo Príncipe”, os políticos que pensam que a primeira notícia divulgada sobre um caso de corrupção é tudo e reagem emocionalmente vão se surpreender.
3. Os rumorosos casos de corrupção para a mídia fazem parte de uma série, como capítulos de uma telenovela. Em seguida, vem o desdobramento do caso, detalhes pessoais, fotos e vídeos sobre os personagens, que atingem suas imagens e de seus partidos. Parafraseando Marshall McLuhan, “a imagem é a mensagem”.
4. Numa visita ao Brasil, em 1997, James Carville (“é a economia, estúpido”), consagrado na primeira eleição de Clinton, aqui em work-shops reservados para equipes de candidatos majoritários, pedia que se colocasse os vídeos/comerciais em telões sem legendas e som, para que ele não pudesse avaliar os conteúdos. E avaliava apenas a imagem. Contratado por Maluf para escolher seu sucessor, assim Carville escolheu Celso Pitta prefeito.
5. Nesse sentido, hoje, os políticos supostamente envolvidos em delações deveriam olhar os jornais e revistas à distância suficiente para que só possam “ler” as primeiras manchetes e as fotos. Assistir aos jornais das TVs –especialmente o JN de muito maior audiência, clicando mute, sem nenhum som. E assim avaliar a mensagem que vêm das imagens.
6. A Operação Mãos Limpas, na Itália, deveria servir não apenas para o estudo jurídico de procuradores e juízes, mas também e especialmente para os políticos e jornalistas. E sua competente adaptação para o Brasil –a Operação Lava Jato- ainda mais. Na –Mãos Limpas- enquanto os políticos imaginavam que era a sua imagem individual que deveria ser defendida, a implosão ocorreu no sistema.
7. Uma releitura da cobertura da mídia na Itália da –Mãos Limpas- 1992-1996- mostra que o foco da mídia era claramente no principal partido desde o pós-guerra: a Democracia Cristã. As denúncias contra os políticos democrata-cristãos eram equações de demonstração: o mal estava no partido DC. E assim o foco foi direcionado a ele. Mas se o impacto do –não- da crítica era contundente –e assim a DC desintegrou-, a equação de seu desdobramento não o era. Berlusconi surgiu da própria mídia e do esporte e orientou um longo ciclo governamental de desorganização política e –paradoxalmente- ética.
8. Olhando as edições do JN (de longe a mídia de maior impacto no Brasil), nesses dias de dezembro, desde sexta-feira, desligando o som, se pode fazer uma “leitura” clara de seu foco na cobertura das delações. E não são poucos os políticos de um mesmo partido que formam a equação de demonstração. O foco é o PMDB. Até se esquecem do PT e de Dilma –autora das MPs destacadas-, talvez porque os considerem sepultados.
9. O PSDB, que serviria para um infográfico de fotos silentes, com seus principais líderes, tanto quanto o PMDB, fica fora do noticiário ou quase. Talvez por uma certa consciência de culpa da mídia, que quer preservar ou sugerir o que deveria vir depois do PT-PMDB. Na Itália foi DC-PS quase numa mesma lógica ideológica.
10. Mas o que veio foi Berlusconi, a sessecionista Liga Norte e agora a antipolítica do humorista Beppe Grillo, confirmando a força da mídia para a desconstrução, mas nem tanto para a preservação/construção. Bem, estamos a apenas 1 ano de 8 meses da campanha de 2018 no Brasil. Que a partir dos justos e certeiros tiros dados pela Lava Jato, a mídia não abra caminho para a antipolítica ou para a espetaculosidade autoritária. Os sinais de hoje já preocupam.