RELATÓRIO – LANÇAMENTO REDE INTERNACIONAL ADENAUER!
Bruno Kazuhiro, presidente Juventude Democratas Brasil
Rede permanente de 24 jovens de diferentes países que se encontrara periodicamente e debaterá os principais temas da atualidade política. A ideia é preparar e integrar os membros para o futuro. O lançamento ocorreu na última semana, em Berlim, entre domingo e quinta-feira. Segue abaixo relatório.
Dia 1 (31/3)
Chegada dos participantes e jantar de recepção com a coordenadora da Rede, Franziska Fislage do escritório central da Fundação Konrad Adenauer
Dia 2 (01/04)
Abertura do evento com palestra do Sr. Gerhard Wahlers, secretário-geral adjunto da Fundação Adenauer.
Gerhard Wahlers, KAS Alemanha:
– Redes são fundamentais para nós. Universidade da Pensilvânia nos coloca como think tank de maior networking no mundo. Somos por exemplo a única fundação alemã na Austrália.
– Nos últimos dois meses visitei Indonésia, Bulgária e Brasil. Temos aqui um brasileiro, Bruno. Estive com membros do seu partido, o presidente da Câmara e o do Senado brasileiros, além dos ministros Guedes e Moro.
– 3 pontos me chamam a atenção atualmente: Qual o papel atual das novas mídias e notícias para a política? Como atender às demandas de uma população que atualmente quer resultados rápidos e não entende o tempo da política? É possível haver diferentes sistemas, com diferentes níveis de participação do governo, e serem todos democráticos?
– Os europeus não devem mais se surpreender ao perder a disputa contra a China no âmbito de ser o principal parceiro comercial de algum país. É irreversível. E a China investe pesado em infraestrutura em países em desenvolvimento.
– As empresas chinesas são cada vez mais fortes na Alemanha e nós queremos vender para o mercado chinês.
– A China é hoje tópico de todas as minhas conversas. O mundo mudou. Não existe mais apenas EUA e Europa.
– Um dos principais temas econômicos hoje é a inovação. Todos debatem como ser mais competitivos na inteligência artificial, na digitalização e nos novos meios de produção.
– Temos um mundo veloz, em transformação e com mudanças mais difíceis de entender do que 20 anos atrás. Para entender melhor essas mudanças em casa país é que fundamos a Rede Internacional Adenauer com jovens líderes.
– Queremos debater mídias sociais, sistemas políticos, novos rumos de cada região, globalização, digitalização, enfim, o futuro do planeta.
Palestra da especialista americana em sistemas políticos,Torey Taussig
Torey Taussig, EUA, pesquisadora:
– Governo Trump mudou a linha de política internacional não apenas pelas visões do presidente mas por focar mais nos conflitos com outros países como a China do que na ameaça terrorista.
– Mitt Romney, candidato derrotado a presidente em 2012, disse na sua campanha que a Rússia era novamente o principal oponente americanos. Riram dela e depois pararam de rir quando a Rússia anexou a Criméia.
– Temos também que atualizar nossa visão sobre outros pontos como o fato de que o número de democracias na África dobrou nos últimos 20 anos e reduzir o pessimismo existente hoje por conta de problemas com a democracia na Europa, por exemplo.
– A globalização e digitalização deixaram a economia mais rápida e muitos não se adaptaram. A desigualdade cresceu e consequentemente a indignação com os sistemas políticos. A democracia não consegue melhorar a vida de todos e isso a enfraquece. Surge contestação do modelo, ao invés da cooperação que avançou após a Guerra Fria. Os EUA, por exemplo, eram modelo e hoje são mal vistos.
– Hoje existe o autoritarismo até mesmo digital, que enfraquece o nível de informação, a liberdade na rede e a democracia.
– A possibilidade de cooperação entre EUA e China será fundamental para a paz no século XXI.
– XI Jinping tem sido uma força autoritária e de fechamento do regime chinês.
– Hoje os EUA atacam as organizações multilaterais mas foram a ONU e a UE que mantiveram a paz nos últimos 70 anos.
– Em geral a América Latina foi uma região positiva em democratização nas últimas décadas.
– Bruno Kazuhiro comenta os casos de corrupção e a Lava-Jato no Brasil. Resposta: “Brasil e México vêem a corrupção e a violência interpretando importante papel na desqualificação, pela população, da política como forma de atingir a qualidade de vida da sociedade.
– Temos hoje na Europa o maior fluxo migratório desde o final da Guerra Fria.
– Jovem de Gana comenta que a China está investindo em infraestrutua também na África. Já está deixando de haver um equilíbrio entre grandes países, passando os chineses a serem lá principais investidores.
– Jovem húngaro defende o governo atual do país e afirma que agenda de Orban não é autoritária, apenas diferente da elite mundial. Resposta: Pesquisadora responde que enquanto o poder executivo húngara atentar contra a independência do judiciário, não será só uma diferença de agenda, mas sim algo concreto.
Almoço com Norbert Lammert, presidente da Fundação Adenauer e ex-presidente do parlamento alemão.
Norbert Lammert:
– Hoje é um dia histórico (1/4). É aniversário de Bismarck. Ele foi a pessoa mais importante para a existência da Alemanha. Liderou a região por 40 anos. Já que falaremos de sistemas políticos, citemos Bismarck.
– As mudanças na Europa foram sempre criadas pela guerra durante a história. O Império Alemão só se consolidou após vencer a França em uma guerra.
– O que gerou a primeira e a segunda guerras foi a vontade de europeus de definir qual deles era o chefe ao invés de cooperar por um futuro comum.
– A primeira guerra foi o ponto que marcou o fim da dominação europeia no mundo. Deixamos de ser os protagonistas e foi necessária a segunda guerra para convencer os europeus que só seriam relevantes unidos. Daí surge a União Europeia.
– Konrad Adenauer teve papel fundamental nessa união, sendo figura de peso assim como Bismarck. Mas teve apoio de nomes como Churchill, que defendeu a reconciliação entre França e Alemanha.
– Atualmente grupos lutam contra instituições como a União Europeia, obtendo apoio de parcelas da população que se ressentem das rápidas e profundas mudanças mundiais. A Alemanha, em menor escala, sente os efeitos no surgimento da AFD.
– A situação atual não é simples. Países querem retomar uma soberania que cada vez representa menos no mundo globalizado e o passado ao qual se quer voltar não existe mais.
– Será que os europeus têm direito hoje de dizer que a China precisa ter um sistema de governo semelhante ao nosso? Temos menos de 7% da população mundial.
– Não somos mais o coração do mundo. A Itália deixou de ser uma das economias top. França e Reino Unido irão deixar também. A Alemanha está buscando se manter.
Nesse cenário a União Europeia faz todo sentido. Só faremos diferença juntos, mas alguns querem voltar ao século XIX.
– Bruno Kazuhiro pergunta qual a maior prioridade hoje da política externa da União Europeia como um todo. Resposta: Temos uma união de estados e não um estado só. Os estados querem manter sua soberania formal e a Comissão Europeia, que deveria ser um governo europeu, hoje é uma negociadora de interesses de 28 membros levando em conta seus interesses claros e também os secretos, tentando gerar consensos. A verdade é que não há uma prioridade clara. A prioridade deveria ser antes de tudo construir metas comuns.
– Vale citar que o sistema político não avança sem progresso econômico e social. É preciso uma combinação mas você não transporta uma história de sucesso de um país para o outro. Muitos dizem que irão copiar regras do sistema alemão. Normalmente respondo que cada país deve construir as suas soluções a partir da sua história.
– O cristianismo venceu o histórico desafio de professar sua religião sem radicalismo. Infelizmente essa ainda não é a verdade para todas as demais religiões.
– Uma fundação política não pode ser poderosa. Poderoso é o partido. A fundação deve ser influente e deve ter contato direto com o público. Não debatemos estratégias de campanha, isso é papel do partido. Debatemos valores e propostas.
– Pela primeira vez na história da Europa todos os seus países têm governos eleitos democraticamente e nenhuma guerra externa ou interna. Um momento privilegiado. Mas faltam consensos sobre qual caminhos a seguir a partir de agora.
Visita guiada ao Museu Alemão da Espionagem
– Trata-se de Museu 90% digital, com 2 anos de funcionamento.
– Há espiões desde antes de Cristo e sempre com três características: identidade secreta, busca de informação e trabalho a serviço de um contratante.
– No século XVI o Reino Unido funda o primeiro Serviço Secreto oficial.
– Museu mostra equipamentos usados para espionagem e tem uma das máquinas originais do Enigma, usado pelos nazistas para criptografar informações. Contam como Alan Turing decifrou o Enigma, história contada no filme O Jogo da Imitação.
Palestra de Jens Lehmann, deputado da CDU e ex-ciclista medalhista olímpico, sobre esporte e política
– A Alemanha tem escolas esportivas que recebem talentos e formam as crianças no ensino médio e no treinamento de alto rendimento no esporte específico de cada um ao mesmo tempo.
– O esporte é meritocrático e há uma busca de talentos no país.
– O jovem quer ser um grande esportista por prazer e também para ter uma vida melhor.
– Hoje como deputado debato o incentivo e as políticas sobre o esporte. Me reúno com federações e busco ajudar que as seleções alemães sejam competitivas.
– Queremos criar um museu dos esportes em Leipzig. Seria o segundo pois já existe um em Colônia.
– Sou da antiga Alemanha Oriental e nunca fui contactado pela polícia secreta. Mas sei que havia um dossiê sobre mim nos arquivos que descobri anos depois. Eles registravam todas as minhas viagens ao exterior.
– Eu digo sempre aos jovens que o esporte tem sua função social, de ascenção, mas deve ser feito com motivação, com prazer, e não só para tentar ser um milionário.
– Perguntei como os alemães vêem um político que foi esportista. Resposta: Eu luto contra o preconceito de ser um ex-esportista na política. Ele existe. Faço questão de participar de comissões sobre outros temas. Não fui eleito pelo clube que defendi como ciclista ou pelos seus torcedores, mas admito que a popularidade me ajudou. Cito outros temas em minha campanha, minhas medalhas ficam em casa e meu interesse é ser um político produtivo. Enfrenta o ceticismo e fui eleito 3 vezes por fazer um bom trabalho.
Dia 3 (02/04)
Dinâmicas de integração do grupo de participantes e análise de cenário político mundial
– Consultoria PlanPolitik realiza workshops simulando situações selecionadas pela instituição ou empresa. A convite da Adenauer trabalhou com os participantes a tentativa de prever o cenário político de 2019 até 2030.
– O foco é sempre o planejamento estratégico, com planos de contingência e diferentes possibilidades a partir de premissas concretas. As discussões são organizadas com cenários de crise e recomendação de soluções e alternativas.
– Os participantes são divididos em 3 grupos, cada um debaterá um cenário alternativo: democracia liberal como sistema dominante, democracia liberal e autoritarismo convivendo e competindo e autoritarismo como sistema dominante.
– Em cada cenário se analisa quais são as premissas básicas que fazem chegar a ele, as forças determinantes para tal. No cenário positivo se busca sugestões de como incentivar que ocorra. No negativo sugestões de como impedir que ocorra.
– Se desenha primeiro o objetivo final e depois o caminho, levando em conta fatores como sociedade, tecnologia, meio ambiente, política e economia.
– As premissas precisam ser definidas a partir de perguntas claras: Como estará a distribuição de poder militar do mundo? Como estará a distribuição de poder econômico? O mundo será unipolar, bipolar, tripolar ou multipolar?
– Cada grupo ao final apresenta os cenários, como eles se constituíram e sugestões para acelerar ou evitar.
Jantar com painel de debates sobre partidos tradicionais x movimentos sociais
Isabelle Negrier, República em Marcha (Macron), núcleo Alemanha
– REM tem núcleos em outros países além da França.
– Sempre gostei de política mas fui dona de casa e mãe de 3 filhos, embora sempre debatendo política. Os partidos tradicionais não abririam portas para mim tão tarde. Mas o En Marche abriu e com as ideias inspiradoras de Macron.
– Creio que o povo francês também busca novos políticos que possam oferecer integridade e identificação. No passado havia uma tolerância com os casos de corrupção ou tráfico de influência e hoje mudou. E também há uma vontade de cada um de ver gente como si mesmo no parlamento.
– Temos que perguntar às pessoas o que elas desejam. Diretamente. Ouvir mesmo que não vá fazer ou não possa fazer o que elas querem. Não podemos “dormir depois de vencer”.
– A França está centralizada demais e com pouco poder local. Isso não é bom. Temos muito o que mudar.
– Partido ou movimento não é a questão. Movimento é mais flexível e reage melhor à velocidade das mudanças atualmente. E atualmente discute mais com as pessoas, se aproxima. Mas REM hoje se tornou um partido. Pois só um partido pode atuar em algo concreto. Contudo, mantemos a ideia de que esquerda x direita acabou. Cada partido precisa mudar.
– Nosso partido tem hoje militantes em 16 países. Núcleos fora da França que pretendem disputar eleições no futuro.
Coordenadora do evento, Franziska Fislage pergunta: Macron perguntou às pessoas o que fazer depois da vitória? R: No início errou e não fez isso. Agora está fazendo.
Perguntei : A falta de experiência e de conteúdo parece ser louvada pelo movimento como algo que representa novidade e identidade com o povo, mas não seria isso um problema na hora de gerir o país e fazer leis? R: REM está fazendo cursos para os que foram eleitos e formando mais os novos parlamentares. Mas temos sim a preocupação de que alguns parlamentares defendam apenas os interesses de sua categoria. Dizemos a eles que não se trata de um sindicato, mas sim do interesse público.
Pergunta do coordenador da Fundação Adenauer na África, presente no debate: Como funciona o sistema político com movimentos que não tem posições claras? Na hora de governar, o que será feito? R: Socialismo, liberalismo, são posições do século XIX. O povo quer soluções. Vamos criar um novo meio de fazer política que trabalha diariamente e que aceita abrir espaço se surgir alguém melhor e mais preparado ao invés de se agarrar ao poder.
Julie Hamann, Conselho Alemão de Relações Exteriores
– A população crê atualmente que diferentes governos de diferentes partidos não mudaram nada nas últimas décadas. Algo novo seria uma boa alternativa.
– Partidos tradicionais não representam as pessoas hoje em dia na sua opinião. Naturalmente isso abre portas para novos movimentos.
– Os movimentos se apresentam como uma possibilidade de participação real e influência nos rumos.
– Os coletes amarelos ficaram tão fortes na França talvez pela frustração das pessoas com a não realização de uma nova política por Macron. Ele não cumpriu essa promessa totalmente. No parlamento francês muitos eleitos pelo REM nunca fizeram política na vida mas quem manda no parlamento são os políticos experientes. A população passa a pensar que tudo se repete.
– É natural que políticos inexperientes demorem para construir algo concreto mas após vencer dizendo que fará diferente e ouvirá as pessoas, o que o parlamentar faz com o poder na prática? O que se faz agora, após vencer?
– Partidos e movimentos são coisas distintas em países diferentes. Na Alemanha o sistema é estável e creio que movimentos não venceriam eleições. De toda forma os partidos em outros países devem perceber o cenário fluido. No futuro um partido de um país pode não ter mais um partido correspondente em outro país como atualmente nas famílias políticas.
– A força dos movimentos é na verdade relembrar o sentido original dos partidos. Afinal, os partidos a nível local deveriam estar em contato com as pessoas, certo?
Volker Ullrich, deputado federal alemão da CSU, Baviera
– Alguns tratam os movimentos e os novos partidos crescendo como um fenomeno novo. Mas tivemos partidos semelhantes e movimentos semelhantes surgindo na Alemanha e em outros países nas últimas décadas. Contudo, nunca duraram muito tempo.
– Creio que atualmente a chance de se manterem existindo é a soma da crise migratória com a crise identitária.
– Na França o surgimento de um candidato a presidente lançado por um movimento e que vence as eleições só ocorre pelo sistema francês permitir o voto direto para presidente. Na Alemanha o sistema político e eleitoral parlamentarista protege contra isso.
– No primeiro turno, a vitória de Macron foi por margem muito apertada. E qualquer um venceria o segundo turno contra Marine Le Pen.
– Não foi apenas falta de representação pelos partidos tradicionais. Foi também uma falha do sistema político.
– Não temos que dar conselhos à França, até por questões históricas. Não nos cabe essa posição de ensinar. Apenas penso que o presidente Hollande cometeu erros no passado ao mudar as regras da representação local e regional. Mudou a forma de fazer política e de como as pessoas veem a política.
– 10 anos atrás ninguém diria que Merkel ficaria no poder 16 anos e que Trump seria presidente. É muito difícil então prever os próximos 10 anos. Mas espero que tenhamos uma UE coesa e unida e que tenha vencido o populismo e descentralizado o poder.
– Se formos pela linha da democracia direta, tudo será resumido a perguntas de sim ou não. Vejam o que o sim ou não fez com o Reino Unido no Brexit.
Dia 4 (03/04)
Continuação da dinâmica de grupo e debates sobre cenários com aprofundamento das discussões e apresentação de conclusões.
Debate de Feedback
– Feedback com debate sobre o que pode ser melhorado, quais partes do programa foram positivas ou negativas, recomendações para o próximo evento.
– Próximo encontro dos participantes da rede será em outubro ou novembro. Local será definido a partir do tema escolhido. Temas possíveis: avanço do populismo; política em tempos de novas mídias; inovação, digitalização e inteligência artificial ou modernização dos partidos políticos.
Visita guiada ao antigo aeroporto Tempelhof
– Aeroporto serviu aos americanos durante a Guerra Fria para vôos comerciais e chegada de suprimentos, fica em Berlim Ocidental. Hoje está desativado.
– Área tinha base da Força Aérea americana e hoje se sabe que na base haviam instalações da CIA que operavam escutas telefônicas e de rádio.
– Aeroporto hoje recebe eventos e pista se tornou parque.
Dia 5 (04/04)
Saída dos participantes ao longo do dia. Muitos voltaram a se reunir para debates no café da manhã e almoço.