CICLOS POLÍTICOS!
Há certa tendência do eleitorado em dar aos governos um prazo maior que o de um mandato para mostrar a que vieram. A reeleição é percebida como um mandato de oito anos, com “recall” no quarto.
Só um governo desastrado não consegue a reeleição. Mesmo aqueles com avaliação regular tendem a conseguir o segundo mandato, projetando expectativas a partir do tempo que precisam. E do uso da máquina. Nos regimes parlamentaristas, estes ciclos costumam ir além dos oito anos, mas raramente acima de 12 anos. Helmut Kohl, na Alemanha, foi uma exceção: governou 16 anos.
As razões para o esgotamento dos ciclos decenais sãoconhecidas. As expectativas excedem, e vem umjulgamento muito mais enérgico que no primeiromandato. O eleitorado muda, com a inclusão dos queeram jovens sem direito a voto antes. É o conhecido “desgaste de material” que o exercício do poder impõe.
“Desgaste de material” é quando o governante passa a ter a intimidade do eleitor e perde a capacidade de criar expectativas e de surpreender.
A sensação de que as mudanças, ou mais mudanças, não virão estimula o eleitorado a buscar a alternância.
No entanto, nada disso é automático, e menos ainda compulsório. Depende da oposição. Quando uma força política, ou uma coligação, vê seu ciclo terminar e toma isso como fracasso seu, e não como a alternância de ciclos, produto da tendência natural do eleitor, se precipita e passa a se autoflagelar. E, assim, transforma em desastre uma derrota natural e previsível.
O novo ciclo, que poderia ser mais curto, termina sendo mais longo, pela fragilização da oposição. A entrada de um novo ciclo político exige das forças políticas questão fora da nova onda paciência e talento. Paciência para entender esse processo e não ter crises de ansiedade. Talento para encurtar a duração da nova onda.
Por aqui, um novo ciclo atrai políticos de um lado paraoutro. Nos países em que o voto é distrital ou em lista, com poucos partidos, isso não ocorre. Num país federado e continental como o Brasil, esses ciclos se dão também em nível regional. E o que se vê, país afora, é uma ingênua e imprudente autoflagelação dos perdedores. Paciência e talento aos perdedores.