02 de junho de 2017

ALEMANHA: LIÇÕES PARA O BRASIL! ELEIÇÕES EM SETEMBRO! MERKEL DISPUTA SEU QUARTO MANDATO! DUAS CONFERÊNCIAS POR ESPECIALISTAS DO CDU: EM BOGOTÁ, 25 DE MAIO DE 2017!

A) 60 milhões de eleitores estão inscritos para votar nas eleições de 24 de setembro de 2017 para o Parlamento – “Bundestag”. São 630 membros eleitos pelo voto distrital misto (por distrito, metade nominalmente e metade em lista). As pesquisas vinham dando ao SPD (Socialdemocratas) vantagem, mas, agora, nas últimas semanas, inverteram; e o CDU, de Angela Merkel, voltou a liderar. Merkel é cientista política, desde 2005 governa a Alemanha e lidera a União Europeia.

B) Entre os dias 22 e 25 de maio, em Bogotá, a Fundação Konrad Adenauer, do CDU de Merkel, realizou um seminário com foco em lideranças jovens latino-americanas de partidos do campo político do CDU. Numa primeira parte, as conferências foram sobre temas políticos gerais, especialmente em relação aos jovens e mulheres. Numa segunda parte, duas conferências trataram do processo eleitoral na Alemanha.

C) Neste momento, o Brasil discute uma reforma político-eleitoral em que o processo alemão, voto distrital misto, ganha destaque. Conhecer o conteúdo dessas conferências é orientador para as eleições brasileiras de 2018. O Democratas foi representado pelo presidente da Juventude do Rio, Antonio Mariano, 26 anos, formado em Ciências Sociais pela FGV e Mestre em Administração Pública pela FGV.

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PRIMEIRA CONFERÊNCIA: Campanha eleitoral de 2017 na Alemanha/ Deputado alemão Sebastian Ehlers.

1. Alemanha é uma república federada, com 16 estados federados. / Distritos e municípios não podem editar leis, mas apenas decretos sobre temas que digam respeito diretamente aos municípios. / Apenas prefeitos e vereadores de cidades grandes recebem salário fixo. / Para filiar-se é obrigatório pagar mensalidade ao partido. O mínimo é de 5 euros ao mês, um valor muito baixo, mas que ajuda o partido. / Em cada nível (local, regional ou nacional), o partido decide como fazer sua própria campanha, sem interferência de outros níveis. Ou seja, o partido, em nível nacional, não pode interferir na estratégia de campanha em uma cidade. / Apesar da liberdade, as campanhas devem ser financiadas em seus próprios locais. Apenas há interferência se o partido local solicitar.

2. Grandes desafios da CDU: os cidadãos têm grande interesse político, mas não significa que queiram filiar-se a algum partido político. Preferem trabalhar outros temas, como auxiliar uma escola. / No leste, antes da queda do muro, era obrigatória a participação da população nas instituições políticas. / Populismo da extrema-direita tem crescido nos últimos 20 anos e foi impulsionado com a crise migratória. / Público são os eleitores da direita que têm medo de perder emprego, mas eleitores da esquerda também se convencem de votar nestes partidos, principalmente da antiga Alemanha Oriental. Votam não pela ideologia, mas por protesto. / Campanha “contra o sistema” foi apelidado de “fenômeno Trump”. / Críticas atuais contra o sistema são várias, mas, principalmente, contra a imigração. É esse o carro-chefe dos populistas. Os meios de comunicação têm jogado ao lado dos populistas quando tratam da imigração.

3. O partido político deve criar e manter redes das mais distintas possíveis: com clubes, associações, organizações sociais, etc. O partido não deve e não pode se fechar em si mesmo. / O jovem na Alemanha já não lê mais jornais e se informa quase que exclusivamente pela internet. / Ninguém sabe qual será o futuro da imprensa escrita. / Redes sociais ajudam nessa mudança, já que a população entra em contato diretamente com seus governantes – e eles respondem. / Contato ainda é feito porta a porta durante as campanhas. Um exemplo desse contato pessoal é a distribuição de cartões nas casas, pedindo sugestões dos eleitores. / Comunicação é sempre com linguagem simples, sem linguagem estrangeira.

4. Existem diferentes correntes dentro da CDU, como liberais e conservadores, mas ainda temos problemas para receber mais jovens e mulheres. / Devemos saber aproveitar o conhecimento dos nossos próprios integrantes. Às vezes não sabemos que um filiado é diretor de uma importante empresa e ficamos sem usar esse contato e esse conhecimento. / Ter um ombudsman é de suma importância, para estarmos constantemente renovando nossos debates e resolvendo nossos problemas internos. / As eleições dos estados, normalmente, são separadas. Não há obrigatoriedade para que ocorram simultaneamente, apesar de que pode ocorrer em alguns momentos. E as eleições estaduais são de suma importância como teste para as eleições nacionais.

5. Nas visitas aos domicílios, sempre vão um homem e uma mulher e, às vezes, essa visita pode demorar hora. As equipes devem estar dispostas e, principalmente, preparadas. / Mas é preciso ter um planejamento minucioso, pois se você bater em uma porta às 17h30, o eleitor não vai votar em você: é a hora do futebol na TV. / Todas as forças do partido devem ser mobilizadas durante a campanha. Ninguém pode ficar de fora. / Na Alemanha, uma pessoa pode ser deputada e ministra ao mesmo tempo, o que pode atrapalhar um pouco a fiscalização do Legislativo em cima do Executivo. Mas em um governo de coalizão, os próprios partidos aliados fazem este controle. Além do que, a lei obriga o Executivo a prestar contas periodicamente, além de responder toda e qualquer indagação dos parlamentares.

6. Relação entre CDU e CSU (aliado histórico) é muito interessante, mas a Baviera é muito diferente do resto da Alemanha. São mais conservadores que nós e, de vez em quando, brigamos, como em qualquer família, mas como bons irmãos, estamos fazendo as pazes novamente, depois de fortes críticas à Merkel. / Os portos do norte da Alemanha estão lotados, tanto de cruzeiros turísticos, como de navios de comércio. / “Na Alemanha, nós, deputados, votamos com a nossa consciência, não temos controle de voto na bancada. Mas como nós estamos filiados a um partido que defende bandeiras X, Y, Z, é de se esperar que votemos de acordo com o que defendemos no partido.”

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SEGUNDA CONFERÊNCIA: CAMPANHA E COMUNICAÇÃO. Prof. Dr. Mario Voigt (Alemanha).

7. Comparação entre os últimos spots de campanha de Hilary Clinton e Trump: Clinton transmite desespero, falta de confiança e medo de perder; Trump transmite confiança, convida o público a trabalhar juntos, compara passado com futuro e transmite o medo de termos Clinton (que foi chanceler de Obama) outra vez. / Ideia básica e fundamental de qualquer campanha: mudança ou manter o mesmo? / O que importa na campanha: tempo (que nunca é suficiente), dinheiro (que deve ser gasto com sabedoria) e pessoas (para ajudarem a lhe eleger). Tudo isso deve fazer parte de um bom planejamento de campanha, que resulta em uma única coisa: o dia da eleição.

8. Estamos vendendo ideias, um partido e, para isso, temos um tempo escasso. Se vendêssemos um carro, o tempo não importaria. / Fórmula mágica: quem vota quer escolher alguém parecido com você e que defende o que você pensa. Toda sociedade tem um tema que a ocupa, o candidato deve saber encontrar este tema para trabalha-lo e criar um vínculo emocional.

9. Nunca convenceremos 100% dos eleitores, assim como nunca vamos poder oferecer tudo para todos. É impossível. O foco do candidato é quem não está convencido, algo que toma muito tempo. / Perguntas básicas de planejamento: quem são meus eleitores? Onde estão? Por que votam em mim? Como chego até eles? Quando devo me comunicar com eles? / Não confundir estratégia de campanha com tática de campanha. / Campanha que aponta para novos eleitores, é uma campanha perdida. Campanha não é para perder tempo e dinheiro. Se querem convencer novas pessoas, o partido que faça um trabalho prévio.

10. Mensagem deve ser: clara, concisa, conectada, consistente, vinculante, relevante, criar contrastes e transmitir credibilidade. / Maioria das peças publicitárias de campanha fazem uso da imagem para contrastar com seu opositor e, por consequência, denegri-lo. / Hierarquia da mensagem: problemas (no topo) -> atitudes e valores / medo e esperança (na base). / Campanha de hoje deve saber misturar o digital e o pessoal. Nem apenas um, nem apenas outro, se não é derrota na certa. / Estratégia de Merkel: emocionar a campanha, mas sem polarizar.

11. Nossa mensagem de 2009: “Nós temos A força.” Contraste de Merkel (candidata mulher, representada pelA forçA) com o outro candidato homem. / Mensagem de 2013: “Sucesso juntos! / Mensagem de 2017: “Estabilidade e valores em época de incertezas.”

12. Nos últimos dois anos, o trabalho fixo na Alemanha bateu níveis recordes. Ilha de estabilidade no meio da Europa. / Cerca de 30% da população alemã só escolhe seu voto na semana da eleição. / Estratégia para a próxima campanha: impedir uma coalizão contra CDU. / A preocupação dos partidos de centro-direita e direita deve ser: envolver o cidadão na tomada de decisões e melhorar a vida da população.