02 de julho de 2021

COM NEGOCIAÇÃO EXTERNA, CHAVISMO CEDE À OPOSIÇÃO!

(Agência EFE/O Estado de S. Paulo, 30) A 4 meses de uma eleição regional, o chavismo derrubou veto de 2018 à formação de uma coalizão opositora. Oferta vem após EUA e UE prometerem aliviar sanções se houver transparência.

O presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Pedro Calzadilla, disse ontem que permitirá que a Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalizão de partidos opositores, apresente candidatos nas eleições de prefeitos e governadores, em 21 de novembro. A decisão foi tomada no momento em que líderes da oposição se preparam para retomar o diálogo com o governo de Nicolás Maduro, com mediação da Noruega.

Em 2018, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) havia decidido que a MUD não estava autorizada a participar das eleições, argumentando que os seus candidatos não poderiam ser membros de uma coalizão e de partidos políticos individuais ao mesmo tempo. Como resposta, a oposição optou por boicotar a eleição, que qualificou de fraudulenta. Desde então, ela não reconhece a reeleição de Maduro.

O grupo foi formado em 2008 como uma aliança de oposição que reunia cerca de 30 organizações políticas. Em 2012, a MUD foi inscrita como partido para se apresentar às eleições legislativas de 2015, nas quais o chavismo perdeu o Congresso pela primeira vez em 15 anos. A coalizão opositora obteve nas urnas uma vitória esmagadora, conquistando 112 dos 167 assentos na Assembleia Nacional, tornando-se a chapa com mais votos na história da Venezuela.

“Hoje, por unanimidade, aprovamos um total de 20 novas denominações de organizações com fins políticos, que entrarão em vigor para participar das próximas eleições em 21 de novembro” disse Calzadilla, que acrescentou que cerca de 106 organizações políticas poderão participar da votação.
Boicote.

Nos últimos anos, a MUD se fragmentou ainda mais, com a saída alguns líderes históricos, como o ex-governador de Miranda e ex-candidato presidencial Henrique Capriles. No ano passado, parte da oposição se recusou novamente a apresentar candidatos nas eleições parlamentares de 2020, denunciando a falta de transparência e de condições justas.

Ao não reconhecer a vitória de Maduro, o líder da oposição Juan Guaidó, que ocupava a presidência do Parlamento, se autodenominou “presidente” da Venezuela, recebendo o apoio dos EUA e de outros 50 países, incluindo o Brasil. Maduro, no entanto, nunca cedeu terreno e manteve o controle total das Forças Armadas e do poder.

Com o tempo, Guaidó foi se enfraquecendo e dando sinais de que estava disposto a negociar com o governo chavista. Recentemente, ele restabeleceu contato com autoridades norueguesas para facilitar a negociação com Maduro, depois que um esforço anterior, em meados de 2019, não obteve sucesso.

Desgastado pela crise econômica, Maduro aceitou o diálogo, desde que as sanções internacionais sejam suspensas. Nas últimas semanas, diplomatas de EUA, Canadá e União Europeia haviam acenado com a possibilidade de aliviarem as sanções em troca de um avanço nas negociações por eleições transparentes e justas na Venezuela. “Este passo é uma oportunidade para reagrupar a oposição e reconstruir uma alternativa para mudança política”, disse o opositor venezuelano Stalin González.

Incerteza. Apesar do anúncio, ainda não está claro se os maiores partidos da oposição, como a Ação Democrática, o Vontade Popular e o Primeira Justiça, voltarão a se unir sob o guarda-chuva da MUD. Os principais líderes opositores, como Guaidó, Capriles e Leopoldo López, não deram indícios de que pretendem aceitar a oferta. Nos últimos anos, o chavismo tem recorrido à tática de oferecer pequenos acenos à oposição sem se comprometer com concessões significativas.