DÓRIA PODERIA CONHECER AS IDEIAS DE JACQUES SÉGUÉLA! EX-BLOG ENTREVISTA CESAR MAIA!
1. Ex-Blog: O prefeito Dória, de S. Paulo, é um candidato competitivo a presidente? CM: O método que adotou é de alto risco. Antes de completar seis meses como prefeito –seu primeiro mandato- adota uma política de superexposição. Com isso, ganha notoriedade por um lado e, com as lupas próximas à pele, suas “marcas” vão sendo conhecidas.
2. Ex-Blog: Que marcas são essas? CM: Internamente a seu partido e ao governador Alckmin, que o apoiou nas primárias contra as principais lideranças do PSDB, surge uma “marca” de inconfiável para alguns e traidor para outros. E antes mesmo de alcançar a condição de Bispo, se comporta como Cardeal. Por outro lado, sendo um outsider, passa a ser enquadrável num modelo que tem crescido muito nos últimos anos, o da antipolítica. Com esse modelo se elegeu prefeito de S. Paulo e com sua atuação posterior esse modelo foi reforçado.
3. Ex-Blog: Mas que riscos são esses que você cita? CM: Na política a ascensão é como uma escada que se sobe degrau a degrau. Se escorrega, cai um ou dois degraus. Mas quando se tenta subir correndo, preferindo a ladeira da política, num escorregão se rola para baixo em grande velocidade.
4. Ex-Blog: Esses atos de superexposição de Dória podem ser classificados como factoides que, aliás, você destacou? E com você foi também um erro? CM: Vejamos. Quando usei a expressão factoides, ainda em 1993, a partir de um artigo da professora Stella Senra, da Universidade de Juiz de Fora, procurava destacar os fatos carregados de imagens, a imagem atraindo e comunicando. Mas em função de meus excessos, a tradução dada pelo noticiário passou a ser de entender como fatos fakes. E foi isso que pegou.
5. Ex-Blog: E quais foram as consequências? CM: Depois de uma curva de popularidade, essa inverteu e entrei numa curva de impopularidade crescente. E, para reverter essa tendência, tive que mergulhar e refletir muito. Adjetivações como “maluquinho” poderiam ter desdobramentos diversos de opinião. Finalmente consegui que a expressão viesse associada a “corajoso”, prefeito capaz de enfrentar desafios. Depois do tornado de fevereiro de 1996 no Rio, essa curva foi revertida e na eleição de 1996 elegi meu sucessor e saí da prefeitura com grande popularidade e aprovação. Mesmo que o ato final tenha sido esse, eu não repetiria a experiência, pois no meio do caminho o risco é grande e a família e os amigos sentem muito.
6. Ex-Blog: Você acha que é muito cedo para Dória se colocar como candidato a presidente? CM: Certamente; e por várias razões. O entorno do político em ascensão o estimula a dar um salto tríplice, estimulados pela expectativa de poder. É um projeto mais do entorno do que do político e potencial pré-candidato. Há também uma questão que deve ser bem pensada pelos políticos e pelos analistas. A competência e capacidade pessoais de um político são atributos
necessários, mas não são suficientes. A experiência política em eleições de governador e presidente é fundamental. De outra forma, a escolha do presidente seria por concurso público e não por eleição.
7. Ex-Blog: Que referências você sugere aos prefeitos, governadores e especialmente aos presidentes? CM: Para simplificar, dividamos a comunicação política em duas escolas: a norte-americana e a europeia, especialmente a francesa. Na norte-americana, os assessores de imagem (publicitários) dos presidentes, desde 1980, têm como slogan “todo dia é dia de eleição”. Numa analogia com a natação, é o nado borboleta. Esse é um método de alto risco para presidentes, principiantes na política, como atualmente o Trump.
8. Ex-Blog: E a escola francesa? CM: Na escola europeia/francesa eu destacaria Jacques Séguéla, assessor de imagem de François Mitterrand. Séguéla assessorou Mitterrand com duas ideias de força. Primeira. No exercício do poder, a superexposição ao sol traz queimaduras de terceiro grau. No cotidiano há que emergir e submergir. Numa analogia com a natação, é o nado de peito. Segunda. A política é semelhante ao teatro. Mas apenas semelhante. No teatro, o ator muda de personagem e continua a produzir emoções. Mas quando o político muda de personagem, nunca, ou quase nunca, sobrevive.