01 de novembro de 2021

O QUE ACONTECERÁ COM O ‘CLÃ DO GOLFO’?!

(O Estado de S. Paulo, 25) A prisão de “Otoniel”, o traficante de drogas mais procurado da Colômbia, abre várias incógnitas sobre o futuro do grupo criminoso que liderava, o Clã do Golfo, e sobre a situação da segurança nas regiões onde atua. Apesar de reconhecer o sucesso do feito, a “prisão não muda a guerra contra o narcotráfico, não move uma agulha”, diz o analista Sergio Guzmán, diretor da Colombia Risk, consultoria de risco político.

Capturar traficantes não resolve a questão, porque uma luta efetiva contra o tráfico deve estar muito focada no controle da demanda por drogas no mundo, segundo discurso destacado pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken, em visita à Colômbia.

Otoniel era até ontem o líder do Clã do Golfo ou Autodefensas Gaitanistas de Colombia (AGC), grupo dedicado ao narcotráfico e herdeiro dos paramilitares Autodefensas Unidas de Colômbia (AUC), que atualmente conta com cerca de 2.000 soldados e presença em mais de 200 municípios.

Com a sua queda, “desaparece a hegemonia de uma família, os Úsuga, fundadores e chefes do Clã”, explicou à Efe o diretor da Fundação para a Paz e Reconciliação (Pares), León Valencia. Mas não necessariamente significa o fim desse grupo criminoso, o maior do país.

O AGC têm uma influência no noroeste do país, especialmente no norte de Antioquia e em Chocó, no Pacífico. Mas suas redes se estendem até o sudoeste, sempre ligadas a corredores de tráfico de drogas e outros negócios ilegais.

Pode haver dois cenários principais, um onde o grupo ficaria dividido e disperso e outro onde alguns de seus subordinados, certamente Jobani de Jesús Ávila, conhecido como “Chiquito Malo”, “tome o controle e mantenha a unidade do clã”, explica Valencia.

O analista acredita mais na primeira opção. O diretor do Colombia Risk prevê que três coisas possam acontecer: uma luta interna para saber quem assume a liderança do grupo e “talvez uma divisão desse cartel”. Outra hipótese é o aumento da violência e o assassinato de policiais, como toda vez que um líder do AGC é capturado ou morto. Finalmente, há o caminho que abre as porteiras aos cartéis mexicanos na Colômbia.

Otoniel era um “parceiro” dos mexicanos, mas sua saída pode ser uma oportunidade para os cartéis aprofundarem seu controle vertical sobre o mercado de drogas no país.