01 de julho de 2021

LÍDERES POPULISTAS DO LESTE EUROPEU ENFRENTAM UM PROBLEMA: IMPOPULARIDADE!

(Folha de SP, 07) Fortalecida pela vitória inesperada de Donald Trump em 2016, a maré populista de direita no leste da Europa não recuou após a derrota do presidente americano em novembro passado. Mas chocou-se com um obstáculo sério: seus líderes não são muito populares.

Depois de vencer eleições graças às criticas a elites amplamente repudiadas, parece que os populistas de direita no flanco oriental da Europa, ex-comunista, não contam com grande simpatia da população.

Isso se deve em boa medida aos impopulares lockdowns para combater o vírus e, como ocorre com outros líderes independentemente de sua postura política, às suas respostas trôpegas à crise sanitária. Mas os populistas também estão sob pressão devido à fadiga crescente provocada por suas táticas divisivas.

Na Hungria, o premiê Viktor Orbán encara uma oposição unida, algo que não é nada característico. Na Polônia, o governo profundamente conservador fez uma virada abrupta para a esquerda em sua política econômica, num esforço para reconquistar apoio. E na Eslovênia, o partido governista de extrema direita do primeiro-ministro que tanto gosta de Trump vem caindo desastrosamente nas sondagens.

O líder esloveno, Janez Jansa, que fez manchetes internacionais ao parabenizar Trump pela “vitória” do republicano em novembro e que se descreve como flagelo das elites liberais, que caracteriza como comunistas, talvez seja o populista impopular em situação mais precária na região.

Fortalecido pelas promessas nacionalistas de barrar candidatos a asilo vindos do Oriente Médio e “garantir a sobrevivência da nação eslovena”, o Partido Democrático Esloveno de Jansa conquistou a maioria dos votos numa eleição em 2018. Um novo governo de coalizão liderado pela legenda recebeu um índice de aprovação de 65% no ano passado.

Desde então esse índice caiu para 26%, e Jansa está tão impopular que seus aliados vêm abandonando o barco. Protestos de rua contra ele vêm atraindo dezenas de milhares de pessoas —números enormes em um país alpino, normalmente plácido, cuja população totaliza apenas 2 milhões de pessoas.

Jansa segue adiante, mas trôpego, tendo sobrevivido por margem estreita a um voto de não confiança no Parlamento e a uma tentativa recente de impeachment lançada por legisladores oposicionistas e políticos que abandonaram sua coalizão. Mas saiu tão enfraquecido que “não tem mais o poder de fazer nada” senão insultar seus adversários no Twitter, disse o professor universitário Ziga Turk, ministro em um governo anterior encabeçado por Jansa que abandonou o partido governista em 2019.

Admirador de Orbán, Jansa vem procurando reprimir a mídia noticiosa, como os governos nacionalistas húngaro e polonês conseguiram fazer, ao menos no caso da TV. Mas a única emissora que o apoia constantemente, uma estação bombástica e parcialmente financiada pela Hungria chamada Nova24TV, tem audiência tão pequena —menos de 1% na maioria dos dias— que sequer é incluída nos rankings.

O filósofo-celebridade e autodeclarado “marxista moderadamente conservador” Slavoj Zizek —um dos poucos eslovenos conhecidos fora do país além de Melania Trump— disse que ainda é cedo para descartar líderes como Jansa, Orbán e Jaroslaw Kaczynski, da Polônia, cujos países descreveu como um “novo eixo do mal”.

Para Zizek, líderes populistas nacionalistas raramente vencem concursos de popularidade. Seu trunfo maior teria sido a desorganização de seus adversários, muitos dos quais o filósofo vê como sendo demasiado focados no “moralismo excessivo” e questões que não interessam à maioria dos eleitores em vez de procurarem resolver os problemas econômicos. “A impotência da esquerda é apavorante”, disse.

O fato de o populismo nacionalista continuar a representar uma força é demonstrado pela líder francesa Marine Le Pen, de extrema direita. Seu partido se saiu mal nas eleições regionais francesas no fim de semana, mas pesquisas de opinião indicam que ela pode ser uma candidata forte na eleição presidencial de 2022, pelo fato de ter suavizado sua imagem de populista incendiária, desistindo da incitação aberta ao racismo e de sua oposição anterior e impopular à União Europeia e sua moeda comum, o euro.

Nunca tendo ocupado um cargo político elevado, Le Pen também conseguiu evitar as armadilhas encontradas por populistas do centro e do leste da Europa, que vêm chefiando governos durante a pandemia. A Hungria, sob a égide de Orbán, o autodeclarado porta-bandeira europeu da chamada “democracia iliberal”, apresenta o maior índice mundial de mortes per capita por Covid, só atrás do Peru.

A Polônia e a Eslovênia vêm se saindo um pouco melhor, mas seus partidos governistas de direita, respectivamente o Partido Lei e Justiça e o Partido Democrático Esloveno, são repudiados pela população devido ao tratamento que vêm dando à pandemia. Mas o maior perigo que ameaça líderes como Jansa e Orban são os sinais de que seus adversários divididos estão finalmente unindo suas forças.

Na Hungria, uma gama de partidos de oposição diversos e antes em desacordo se uniu para enfrentar o partido governista Fidesz, de Orbán, nas eleições que ocorrerão em 2022. Caso se mantenham unidos, podem muito bem sair vencedores, se as pesquisas de opinião estiverem corretas.

Na Eslovênia, Jansa mobiliza uma base leal de cerca de 25% do eleitorado, mas tem tido “êxito ainda maior em mobilizar seus muitos adversários”, disse o historiador esloveno e ex-partidário hoje desiludido Luka Lisjak Gabrijelcic. “Sua base o apoia, mas muita gente o odeia de verdade.”

Essas pessoas incluem o presidente do Parlamento, Igor Zorcic, que abandonou a coalizão de Jansa recentemente. “Não quero que meu país siga o modelo húngaro”, comentou ele.

Gabrijelcic disse que saiu do partido de Jansa porque tornou-se “excessivamente hostil”, afastando-se do que ele enxergava como uma resposta sadia à ortodoxia desgastada de centro-esquerda e virando em vez disso um reduto de paranoicos e vozes de ódio nacionalista. Em toda a região, acrescenta ele, “a onda inteira perdeu seu impulso”. Turk, o ex-ministro esloveno, disse que os liberais exageraram o perigo representado pela virada nacionalista na Europa, mas que a polarização é muito real.

“O ódio é ainda mais extremo que nos Estados Unidos”, lamentou.