‘É TEMPO DE CUIDAR’!
(Luiz Seabra, Guilherme Leal, Pedro Passos, Roberto Marques – O Estado de S. Paulo, 31) Somos todos – indivíduos, famílias, empresas, países e civilização – herdeiros de um fenômeno extraordinário, nosso maior patrimônio: a vida.
Fomos, como civilização, geniais ao inventarmos o mercado, mecanismo que se sofistica crescentemente, mas desde sempre tem uma finalidade: atender às necessidades da vida humana. Em um momento em que, aturdidos, nos defrontamos com uma ameaça global, de consequências devastadoras, como a pandemia do coronavírus, é fundamental termos clareza do que é prioritário, mesmo respeitando opiniões divergentes.
Acreditamos que nossa prioridade, como indivíduos, famílias, empresas, países e civilização, é cuidar da vida, da sua preservação. Para enfrentar esse momento assustador e inesperado, devemos justamente nos guiar por instituições, autoridades médicas e cientistas das mais diversas áreas, cujos conhecimentos acumulados, formação e experiência cotidiana têm essa mesma prioridade como responsabilidade principal.
É tempo de cuidar. Cuidar de si, dos outros e das relações que estabelecemos com o mundo. Sociedade e empresas devem instar governos a fazer o que é imperioso ser feito, para privilegiar os investimentos na saúde pública, no apoio ao funcionamento da economia e, principalmente, dos pequenos negócios e do atendimento das necessidades dos mais frágeis que temos em nossa sociedade. Dos grupos de risco de hoje e de sempre. Não pode haver dúvida sobre o caminho a ser escolhido. Agir rápido em favor da vida.
É o que temos feito em nossas empresas. Estamos em contato permanente com a Organização Mundial de Saúde e autoridades de muitos países para que as melhores práticas sejam adotadas e informações corretas cheguem aos milhões de pessoas que compõem nossa rede de relações.
A epidemia nos ensinará lições importantes sobre a vida. Enfrentaremos uma severa retração econômica e, mais preocupante, um aumento profundo da desigualdade social no Brasil e no mundo. Quando voltarmos à vida normal, acreditamos que poderemos ser melhores para cuidar das pessoas e do planeta.
Nesse contexto complexo, buscamos fazer nossa parte. Entendemos que são cruciais a continuidade e a ampliação da produção de alguns itens de higiene, essenciais no combate à epidemia. Estamos fazendo isso com todos os cuidados para preservar a saúde de nossos colaboradores, em cooperação com autoridades sanitárias. Temos de assegurar que não faltem meios para que possamos nos cuidar e cuidar dos outros, isolando sobretudo quem deve ser isolado: o vírus.
Para os não envolvidos diretamente na produção e distribuição, estamos recomendando o trabalho de casa. Asseguramos estabilidade aos nossos colaboradores durante a crise. Obviamente, temos procurado estar juntos, apoiando e conectando nossas milhões de consultoras e revendedoras independentes no desafio de manter suas atividades, observado o distanciamento necessário.
Nesses tempos de reflexão, compartilhamos uma crença que nos tem unido e movido desde sempre: “A vida é um encadeamento de relações. Nada existe por si só, tudo é interdependente”. A distância física é fundamental para impedir a propagação do contágio de forma acelerada, mas ela deve ser feita com conexão, empatia e solidariedade. Os médicos neste momento não estão emitindo apenas opiniões, mas indicando o caminho da melhor ciência disponível. A eles e a todos os profissionais de saúde, nosso máximo respeito. Também devemos expressar nossa admiração por inúmeras lideranças da sociedade civil que, conscientes dessa interdependência, lideram esforços solidários e efetivos para fazer chegar a ajuda onde ela se faz necessária.
Materialmente, vivemos todos um momento de perdas. Nós as enfrentamos com a tranquilidade de quem já atravessou muitas crises antes. As crises passam. Queremos reforçar essa ideia fundamental em todos os campos e atividades que desenvolvemos como empresa e como cidadãos: mais do que viver as perdas, é tempo de cuidar.
Somos testemunhas de um momento fundamental na história humana. Nas incertezas que marcam este momento, que nossa reflexão nos leve às escolhas de quem queremos ser ao final desse processo. Se tudo parece nublado em relação ao futuro, nosso coração pode nos nutrir com a esperança de um mundo melhor.
Se somos produto de uma civilização individualista, temos agora ainda maiores razões para sonharmos com a emergência de uma humanidade mais solidária e cooperativa. Com certeza o poeta não era ingênuo quando afirmou que “a aurora é lenta, mas avança”. Ele apenas descrevia como nasce a beleza, à espera do nosso olhar.
Não pode haver dúvida sobre o caminho a ser escolhido. Agir rápido em favor da vida.